O procurador-geral da República (PGR), Amadeu Guerra, confessou que aceitou sair da reforma para melhorar a situação da justiça em Portugal, “como um adepto que sai da bancada” para dar a tática.
Amadeu Guerra foi o convidado do episódio 100 do podcast Pod Esclarecer, da Ordem dos Advogados, que contou com a colaboração do Expresso e da TVI/CNN.
Um dos temas centrais do programa foi a Operação Influencer, que resultou na queda do anterior Governo, de António Costa, em 2023.
O novo PGR assumiu que não sabe se escreveria o parágrafo do comunicado sobre a Operação Influencer que visou e levou à queda do então primeiro-ministro António Costa, alegando não conhecer “suficientemente o processo”.
Amadeu Guerra disse que vai chamar os titulares do processo da Operação para lhes falar “olhos nos olhos”, dizendo que são processos que não podem parar.
O anúncio da Operação Influencer foi feito através de um comunicado da PGR, então liderada por Lucília Gago, no qual continha um último parágrafo a informar que estava em curso uma investigação ao primeiro-ministro António Costa. Este caso ficou associado à queda de António Costa.
“No que diz respeito à situação política muito se pode falar (…) para mim não tenho tempos mediáticos, se a acusação estiver pronta em vésperas de eleições sai a acusação, não me parece que possamos a protelar mais tempo”, defendeu.
Naquela que foi primeira entrevista desde que tomou posse, em outubro, o PGR disse que o Ministério Público “tem mais do que se preocupar do que com as situações políticas”, referindo ser “defensor da separação de poderes”.
“A nossa atividade é muito simples: investigar sem olhar a quem, os cidadãos são todos iguais”, reiterou.
Para Amadeu Guerra, a questão de fundo é: “Foram feitas diligências de recolha de prova e vamos deixar que a prova seja analisada (…), são processos grandes, que não podem parar”.
Por outro lado, o PGR admitiu ainda que o MP “deve estar sempre preparado para fazer justiça e se não houver elementos para levar o processo a julgamento, se não há elementos para acusar e levar a julgamento será [um] erro maior” deduzir uma acusação nessas circunstâncias.
Como cita o Expresso, Amadeu Guerra assumiu que aceitou sair da reforma para melhorar a situação da Justiça em Portugal, comparando a oportunidade com um jogo de futebol: “Foi como alguém que foi ver um jogo de futebol, a equipa não estava a jogar nada — ou pelo menos o treinador pensou que não estava a jogar nada. Foram buscá-lo à assistência para ele jogar“.
Ressalvando que “as coisas demoram tempo e são complexas”, o novo PGR prometeu: “Vamos mudar muita coisa”, reiterando a missão de falar com os procuradores “olhos nos olhos”.
ZAP // Lusa