O Banco de Portugal já recebeu, nos últimos 10 meses, mais de um milhão e meio de euros em notas estragadas. Há de tudo: carbonizadas, cortadas, estragadas pela humidade. As que estão em pior estado são as de 5 euros.
Os portugueses continuam a gostar de enterrar dinheiro, prática comum há várias décadas, por razões de segurança. O jornal Público escreve que este ritual pode prender-se com a descrença nos bancos.
Mas a prática tem consequências: nos últimos 4 anos, o Banco de Portugal tem recebido sempre mais de um milhão de euros por ano em notas estragadas. Nos últimos dez meses, foram já um milhão e meio de euros.
“As pessoas acham que o dinheiro não se estraga. Não é verdade”, diz ao Público José Luís Ferreira, coordenador de área de operações com o numerário do Banco de Portugal.
Nestas situações, o trabalho do Banco é sempre complicado: em caso de dolo, o dono das notas pode não ver os valores restituídos. É, portanto, necessário comprovar que o motivo do mau estado do dinheiro corresponde à descrição da pessoa que o entregou. Quando é possível comprová-lo, a pessoa recebe o seu dinheiro de volta na conta bancária.
Há várias formas comuns de estragar dinheiro. A mais vulgar é enterrá-lo: passado algum tempo, as notas parecem roídas, mas estão apenas deterioradas pela humidade da terra, tornando-se inutilizáveis.
De acordo com o Banco de Portugal, o número de notas estragadas aumentou em 2022, o que se pode prender com a pandemia, quando as pessoas queriam ter mais dinheiro “vivo” armazenado: “Sabe-se que durante a pandemia a reserva de valor aumentou, sendo portanto expectável que, terminada a pandemia, as pessoas que guardaram valores em casa, e que estes tenham ficado deteriorados, os tivessem apresentado ao Banco de Portugal para troca”.
“Da nossa experiência e no que respeita aos efeitos da circulação e a todas as atividades de processamento de notas”, explica o Banco de Portugal, “em média, a nota que chega ao banco central em piores condições é a nota de cinco euros“.
Em 2017, outra forma comum de estragar o dinheiro teve a ver com os incêndios. “As notas vinham carbonizadas, dentro de cofres, caixas, etc.”, recorda José Luís Ferreira. Também a água usada para apagar os incêndios pode danificar as notas.
Também as notas rasgadas são comuns, devido, por exemplo, a estragos provocados pelos animais de estimação. Neste casos, para comprovar que todos os pedaços correspondem à mesma nota, o Banco usa um software informático que analisa as dimensões dos pedaços.
No entanto, os especialistas alertam para fraudes de pessoas que tentam mostrar dinheiro falso, como é o caso de notas esbranquiçadas que afirmam terem-se estragado em máquinas de lavar, e que são, na verdade, notas falsas.
Bruno Rato, coordenador da unidade central de operações com numerário do Banco de Portugal, acredita que fenómenos naturais cada vez mais recorrentes, como as inundações, deverão aumentar o número de ocorrências destes incidentes.