A chegada de Donald Trump à Casa Branca pode trazer grandes mudanças na NASA, a agência espacial norte-americana, com “dedo” de Elon Musk pelo meio.
O objectivo de Donald Trump será garantir que os EUA ganham a nova “corrida” espacial que disputam com a China na exploração de Marte e no regresso à Lua. Mas a actual estrutura da NASA parece ser um problema.
Um relatório das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos EUA, divulgado em Outubro passado, coloca a “NASA numa encruzilhada”, com vários problemas identificados, como “infraestruturas desactualizadas” e “práticas de gestão ineficientes”, aponta a revista de informação Newsweek.
Além disso, a agência espacial tem tido mais dificuldades em obter financiamento, e sofreu cortes orçamentais decididos no Congresso dos EUA em 2023.
O novo mandato de Trump “pode trazer um maior escrutínio aos gastos da NASA“, até pelas mãos de Elon Musk que vai liderar o Departamento da Eficiência Governamental (DOGE).
O magnata dono da SpaceX, empresa de exploração espacial que fundou em 2002, vai estar focado na “redução de custos” do Estado e prometeu poupar dois mil milhões de dólares do orçamento federal.
“A NASA já está relativamente sem dinheiro para as suas várias missões”, refere à Newsweek a investigadora e professora de Direito Espacial na Universidade de Durham (Reino Unido), P.J. Blount.
A investigadora acredita que Musk pode “fornecer insights sobre gestão e eficiência” na NASA, mas considera também que as suas promessas sobre “reduções drásticas no orçamento não são um bom presságio para uma agência que equilibra voos espaciais tripulados, ciência e benefícios públicos”.
Prioridade de Trump será voltar a levar humanos
Quando Trump esteve na Casa Branca, no seu primeiro mandato, a NASA lançou o programa “Artemis” com o objectivo de voltar a levar humanos à Lua, algo que não acontece desde 1972.
Esse projecto deverá ser uma das prioridades quando Trump voltar à cadeira do poder, até porque está em jogo uma “corrida” espacial com a China que planeia enviar astronautas à Lua até 2030.
O problema é que a ciência espacial exige investimentos elevados. O Sistema de Lançamento Espacial (SLS) da NASA, essencial para o programa “Artemis”, é especialmente dispendioso.
O SLS é um foguete descartável que só pode ser lançado a cada dois anos, custando cerca de 4,1 mil milhões de dólares (cerca de 3,9 mil milhões de euros) por lançamento.
E é aqui que a SpaceX de Musk pode entrar em jogo. A agência espacial do magnata está a tentar reduzir os custos dos voos da nave espacial Starship para menos de 10 milhões de dólares (cerca de 9,5 milhões de euros).
Com Trump ao leme, a Casa Branca pode vir a “interromper o desenvolvimento do SLS em favor do foguete reutilizável Starship para o programa “Artemis””, avança a Newsweek.
Receios de “monopólios para as empresas de Musk”
A estratégia de Trump para a NASA pode passar por aprofundar as parcerias com o sector privado, o que acabará por beneficiar a SpaceX. E aqui entra em campo um potencial conflito de interesses, uma vez que Musk vai integrar a Administração do novo Presidente dos EUA.
Podem também levantar-se questões quanto a “prioridades, financiamento” e à “influência na NASA” de Musk, destacam especialistas ouvidos pela Newsweek.
“Existem preocupações de que a nova Administração possa não tornar os regulamentos suficientemente rígidos para as empresas espaciais privadas, levando a possíveis monopólios para a empresa de Musk“, acrescenta a revista.
“O papel da NASA deveria ser mais amplo do que simplesmente adquirir serviços de empresas comerciais, deve também dar prioridade a missões orientadas para a ciência e a benefícios sociais”, entende ainda Blount.
Musk pode ser “faca de dois gumes para a NASA”
Por outro lado, uma maior participação de privados no desenvolvimento da indústria espacial pode acelerar o programa “Artemis” e a exploração de Marte.
“A SpaceX e outras empresas privadas demonstraram que podem fornecer soluções mais rápidas, mais baratas e talvez até mais seguras“, refere à Newsweek o professor de Relações Internacionais na Salem State University (EUA), Kani Sathasivam.
A NASA já encomendou à SpaceX e à Blue Origin de Jeff Bezos os módulos de carga para as suas missões “Artemis”, para entregar equipamentos pesados na Lua. Mas com Trump ao leme as parcerias público-privadas podem ganhar mais força.
A Newsweek admite “grandes mudanças” na NASA à luz destes dados e há quem tema que se corre “o risco de marginalizar as missões científicas” da agência espacial, nomeadamente nas áreas das ciências da Terra e da atmosfera, para “concentrar a influência nas mãos de entidades privadas”, aponta a revista.
Neste cenário, Musk tornar-se-ia “uma espécie de faca de dois gumes para a NASA”, conclui a revista.
Isto significa que o “dedo” do magnata na estratégia espacial de Trump pode implicar tanto consequências positivas quanto negativas. Teremos que esperar pelo futuro para avaliar quais pesarão mais na balança.