Thomas Midgley já foi um herói da química, mas ainda estamos a sofrer com os seus erros

Wikimedia / Commons

Thomas Midgley Jr.

Tudo era invulgar neste engenheiro químico, que entre outras coisas peculiares chegou a experimentar inalar chumbo. Estava sempre à procura da substância que marcaria a sua próxima invenção revolucionária, e num belo dia inventou o Freon — o primeiro gás CFC.

Em 1924, o inventor Thomas Midgley Jr. deitou um aditivo de chumbo nas mãos e  inalou os seus fumos durante cerca de um minuto. “Podia fazer isto todos os dias sem ter qualquer problema de saúde”, garantiu.

Pouco tempo depois, foi hospitalizado. Um séculos depois, sabemos que quase só fez trapalhices, mas as suas invenções vão, ainda assim, valer-lhe um filme escrito por Terence Winter, argumentista do filme O Lobo de Wall Street.

Midgley era, na altura, engenheiro químico da General Motors, tinha feito a proeza para apoiar a sua mais recente e lucrativa descoberta: um composto chamado chumbo tetraetilo.

Adicionada à gasolina, esta substância resolvia um dos maiores problemas que a indústria automóvel enfrentava na altura — o bater do motor, ou pequenas explosões nos motores dos automóveis devido à baixa qualidade da gasolina, que resultavam num som irritante e em potenciais danos, conta a CNN.

O problema: gasolina com chumbo é altamente prejudicial à saúde, e mesmo que tenha deixado de ser comercializada em 2021, ainda estamos a viver com as consequências desse aditivo.

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, estima-se ainda que cerca de 1 milhão de pessoas morram anualmente de envenenamento por chumbo.

Era conhecido por ter sempre consigo uma cópia da tabela periódica, a sua principal ferramenta na procura da substância que marcaria a sua próxima invenção revolucionária.

Uma delas foi particularmente grave. Midgley considerou que os CFCs, ou clorofluorcarbonos, seriam um substituto ideal e inofensivo para os seres humanos, trocando os gases nocivos e inflamáveis que se encontravam nos materiais de refrigeração e no ar condicionado por esta substância.

No entanto, os CFCs revelaram-se mortais para o ozono na atmosfera, conta a CNN: bloqueiam a perigosa radiação ultravioleta que, para além de prejudicar as plantas e os animais, pode causar cancros da pele e outros problemas de saúde.

Criou então o Freon — um derivado do metano, composto por átomos de carbono, cloro e flúor — o primeiro CFC. Noutra demonstração pública, em 1930, Midgley inalou o gás e apagou uma vela com ele, numa tentativa de demonstrar a sua segurança.

O Freon, e os restantes CFCs, tornaram-se sucessos comerciais e fizeram disparar a adoção do ar condicionado nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, explica o canal de televisão americano. Estas invenções valeram ao químico diversos prémios (como a medalha Perkin ou a Priestley) e grande reconhecimento na área.

Tudo era invulgar neste inventor, e claro que a sua morte não podia ser exceção: em 1940, contraiu poliomielite e ficou gravemente incapacitado. Concebeu, então, uma última uma engenhoca: uma máquina que o levantava da cama para uma cadeira de rodas de forma autónoma, através de cordas e roldanas.

A 2 de novembro de 1944, ficou preso na sua própria máquina e morreu estrangulado.

“A causa oficial da morte foi suicídio”, diz Bill Kovarik, professor de comunicação na Universidade de Radford. “Ele tinha um enorme sentimento de culpa. A indústria dizia-lhe que ele era brilhante. Mas ele fez coisas que, em retrospetiva, foram bastante irresponsáveis. O envenenamento por chumbo pode ter contribuído para a sua psicose”.

ZAP //

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