Lobos, rangidos e fantasmas. Coreia do Norte tem nova forma de chatear o Sul: ruídos sinistros

@mason_8718 / X

O megafones norte-coreano são instalados nas fronteiras

Sul-coreanos não conseguem dormir com “bombardeamento sonoro” vindo do Norte. Não é rádio de propaganda: são ruídos assustadores e insuportáveis.

“Está a deixar-nos loucos”, diz An Mi-hee, 37 anos, ao The New York Times (NYT). “Não se consegue dormir à noite” nas aldeias fronteiriças com a Coreia do Norte, relatam os habitantes.

“É um bombardeamento sem projéteis”, conta Mi-hee. Enquanto falava com o NYT a partir da sua sala de estar, os ruídos distantes, semelhantes a gongos, continuavam no exterior, parecendo aumentar à medida que a noite avançava. “A pior parte é que não sabemos quando é que isto vai acabar, se alguma vez vai acabar.”

Gostava que eles transmitissem apenas os velhos insultos e canções de propaganda“, exaspera-se An Seon-hoe, 67 anos, outro habitante da região fronteiriça. “Pelo menos eram sons humanos e podíamos suportá-los”.

Ultimamente, porém, a aposta dos megafones instalados na fronteira a mando de Kim Jong-un é outra: em vez de impingir propaganda, aterrorizam os habitantes com sons perturbadores, que vão desde lobos a uivar ou portas de metal a ranger e até mesmo ruídos que imitam fantasmas e outras criaturas assombrosas.

Os locais têm dificuldade em descrever estes sons, para além de lhes chamarem “irritantes” e “stressantes”. Os moradores culpam os norte-coreanos de insónias, dores de cabeça e até de abortos de cabras, galinhas que põem menos ovos e a morte súbita de um cão de estimação.

O NYT fala numa “neo-guerra fria” com o aproximar da Coreia do Norte à Rússia, o que fez aumentar as já muito fragilizadas relações entre as duas Coreias. Nos últimos tempos, os sul-coreanos têm enviado par ao norte balões com propaganda anti-regime, ao que a Coreia do Norte responde com balões que contém fezes uma prática já recorrente.

“A Coreia do Norte sabe que a sua propaganda já não funciona junto dos sul-coreanos”, diz ao NYT Kang Dong-wan, um especialista em Coreia do Norte da Universidade de Dong-A, no Sul. “O objetivo dos seus altifalantes deixou de ser o de difundir propaganda e passou a ser o de forçar a Coreia do Sul a parar as suas próprias emissões e panfletos.”

Agora, os habitantes das aldeias mantêm as janelas fechadas para diminuir o ruído. Alguns instalaram esferovite por cima das janelas numa tentativa de isolar o som. As crianças já não brincam nos trampolins ao ar livre por causa do barulho, conta o jornal.

“O governo abandonou-nos porque somos poucos e, na maioria, idosos”, diz Park Hae-sook, 75 anos, habitante de uma aldeia fronteiriça. “Não consigo imaginar o governo a não fazer nada se Seul sofresse o mesmo ataque sonoro que nós.”

ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.