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A dinastia Ming colapsou há 400 anos. A culpa afinal foi de uma mega-seca

Zhenxiong Li / Wikimedia Commons

Cavaleiros da dinastia Ming

O colapso da dinastia nacionalista Ming, que sucedeu ao império mongol na China, começou com uma mega-seca. Quem o revela são anéis nas árvores.

Geralmente, atribui-se o fim da dinastia Ming no século XVII a causas políticas e económicas.

Mas o Instituto do Ambiente Terrestre (IEE), integrante da Academia Chinesa de Ciências, vem agora desmentir essa ideia: o grandes desestabilizador da hegemonia dos Ming foi, na verdade, uma mega-seca.

A catástrofe natural, conhecida por mega-seca de Wanli, ocorreu entre 1585 e 1590 e é notável pela sua duração e severidade, conta o LBV.

É muito difícil averiguar eventos climatéricos com centenas de anos, mas o estudo que só será publicado a 1 de dezembro na Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology utilizou um método inovador que tem por base a reconstrução histórica do Índice de Gravidade da Seca de Palmer (PDSI) para o período de julho a setembro.

Utilizando isótopos estáveis de oxigénio obtidos a partir de anéis de crescimento de árvores no Planalto de Loess, no sudoeste da China, os investigadores conseguiram acompanhar as variações climáticas desde 1556 a 2015.

Foi assim que a equipa, liderada por Men Ren e Yu Liu, se apercebeu de um enfraquecimento significativo na monção (ventos sazonais) de verão asiática desde 1561 a 1661. Segundo o LBV, esses dez anos coincidem com a fase histórica conhecida como “Período das Monções Fracas do Final da Dinastia Ming”.

Essa mudança climatérica, para além de alterar a pluviosidade, afetou também a capacidade agrícola da época, o que atrasou o desenvolvimento económico da região. Este evento pode mesmo ter originado um clima de insegurança alimentar e de descontentamento social que poderá ter enfraquecido as estruturas de poder da dinastia.

Para além das secas de Wanli e Chongzhen, os investigadores observaram que fenómenos climáticos globais, como o El Niño-Oscilação Sul (ENSO — fenómeno climatérico que influencia a temperatura e precipitação em todo o mundo), podem ter influenciado a intensidade da monção asiática e, subsequentemente, as condições de seca na China, escreve o LBV, que deixa uma nota:

“Compreender a interação entre as alterações climáticas e o desenvolvimento das civilizações através destes registos históricos oferece lições valiosas para enfrentar os desafios de hoje”.

ZAP //

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