O Planeta Azul nem sente a ameaça do Apophis: é o visitante que deve ter medo da nossa gravidade.
Em 2029, o asteroide 99942 Apophis, cujo nome deriva do deus egípcio das trevas, passará a 32.000 quilómetros da Terra. Sim, vai passar muito perto. Mas quem tem de se preocupar é ele.
A atração gravitacional da Terra durante este sobrevoo poderá alterar drasticamente a superfície do “Deus do Caos”, o que pode explicar porque é que alguns asteroides exibem superfícies mais jovens do que o esperado, dada a sua origem antiga, teorizam cientistas liderados pelo planetário Ronald Ballouz, em estudo publicado no The Planetary Science Journal e disponível no arXiv.
Aquando da sua descoberta em 2004, o Apophis lançou um alarme no mundo devido aos cálculos que sugeriam um potencial impacto com a Terra. No entanto, análises posteriores excluíram o risco de colisão, pelo menos, durante o próximo século.
Embora o Apophis vá passar em segurança, o asteroide em si pode não permanecer inalterado. Muitos asteroides próximos da Terra, como o Apophis, têm superfícies soltas, semelhantes a escombros, e apresentam menos resistência às intempéries do Espaço do que os asteroides que não se aproximam de planetas.
Este estado invulgar da superfície intrigou os cientistas, que especularam que encontros planetários próximos poderiam refrescar a sua aparência.
Para testar esta hipótese, a equipa de Ballouz utilizou modelos baseados no asteroide 25143 Itokawa, que partilha com o Apophis uma forma semelhante de dois lóbulos. As simulações revelaram que, à medida que o Apophis se aproxima da Terra, pode sofrer abalos sísmicos devido a interações gravitacionais, fazendo com que as rochas da sua superfície se desloquem. Estes movimentos, potencialmente detetáveis com instrumentos baseados na Terra, podem efetivamente “refrescar” a superfície do asteroide ao longo do tempo, explica o Science Alert.
Para além disso, a força gravitacional da Terra pode alterar a rotação do Apophis, levando a mudanças graduais na sua superfície ao longo de milhares de anos.
Um estudo de 2010 sugeriu que qualquer passagem a menos de 102.000 quilómetros poderia induzir estas alterações rotacionais, colocando a distância prevista para o Apophis bem dentro do intervalo para tais efeitos. Apesar de os cientistas não poderem observar diretamente estas alterações, antecipam potenciais conhecimentos a partir das mudanças na rotação de Apophis.
O próximo sobrevoo proporcionará uma rara oportunidade de observação, uma vez que o Apophis será visível a olho nu, e irá permitir aos cientistas monitorizar de perto e estudar o seu comportamento à medida que passa a alta velocidade.