As origens do sistema de escrita mais antigo do mundo podem apontar, afinal, para símbolos em “selos” usados no comércio da Mesopotâmia.
O mais antigo sistema de escrita conhecido, o cuneiforme, surgiu na Mesopotâmia por volta de 3.200 a.C., precedido por um sistema mais rudimentar chamado proto-cuneiforme, utilizado entre 3.350 e 3.000 a.C.
Estes tipo de escritas rudimentares careciam de regras gramaticais, não sendo capazes de expressar significados complexos.
Como detalha a New Scientist, uma das principais teorias sobre a origem do proto-cuneiforme liga-o ao uso de fichas de barro, que eram pressionadas em argila molhada para criar símbolos, conforme documentado por Denise Schmandt-Besserat em 1992.
No entanto, Silvia Ferrara, da Universidade de Bolonha, e a sua equipa investigaram agora outra possível fonte de símbolos: os selos cilíndricos.
Estes objetos gravados eram rolados sobre argila húmida, deixando impressões que identificavam propriedade ou transações comerciais.
Quando a equipas de investigação analisou selos de uma vasta área no sudoeste asiático, datados de 4.400 a 3.400 a.C., encontraram semelhanças entre símbolos dos selos e o proto-cuneiforme, como a imagem de um tecido com franjas, símbolo do transporte de mercadorias.
No anos 90, Holly Pittman, da Universidade da Pensilvânia, já tinha proposto a ideia de que os símbolos dos selos cilíndricos influenciaram o proto-cuneiforme. Apesar de inicialmente rejeitada, esta hipótese ganha agora um novo apoio com as descobertas da equipa de Ferrara publicadas esta terça-feira, na Antiquity.
“Sinto-me satisfeita por, 30 anos depois de ter proposto pela primeira vez o papel fundamental das imagens dos selos nas origens da escrita proto-cuneiforme, uma nova geração de académicos ter retomado a minha ideia e, com os seus conhecimentos sobre a escrita cuneiforme, ter dado mais pormenores ao meu argumento”, enaltece Holly Pittman à New Scientist, lamentando que a sua ideia tenha sido rejeitada “sem qualquer consideração séria”.
Esta descoberta indica que a escrita não foi apenas uma criação urbana centralizada, mas sim um fenómeno cultural mais amplo e distribuído.
Como escreve a New Scientist, inicialmente, a escrita inicial servia sobretudo para fins administrativos, organizando bens e pessoas, tendo sido crucial para a estruturação social.