Suécia e Noruega queriam acabar com dinheiro físico. A guerra na Rússia fê-las repensar

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World Economic Forum / Flickr

A antiga vice-governadora do banco central sueco, Cecilia Skingsley,

Países nórdicos temem ciberataques russos. Depois de criarem aplicações para acabar com o numerário, enviam agora cartas à população com ordens em contrário: “mantenham algum dinheiro em caixa”.

Em 2018, a antiga vice-governadora do banco central sueco, Cecilia Skingsley, previu que a Suécia iria provavelmente deixar de usar dinheiro em espécie até 2025, lembra o jornal britânico The Guardian.

A boa cobertura de Internet de alta velocidade, as elevadas taxas de literacia digital, das grandes populações rurais e as indústrias fintech em rápido crescimento são os motivos apontados para o abandono do dinheiro físico, que já parecia estar démodé nestes países.

Ambos criaram, então, sistemas de pagamento móvel que se popularizaram entre os habitantes dos dois países: na Suécia, o Swich, lançado em 2012, e na Noruega o Vipps MobilePay, querem acabar com o numerário.

Mas este objetivo está agora congelado, à medida em que a Suécia altera em simultâneo a sua política externa: aderiu à NATO este ano e, entre outras medidas, reativou uma agência  de defesa psicológica que visa combater a desinformação propagada pela Rússia.

Também a Noruega se tem mantido alerta após o início do conflito russo-ucraniano, tendo reforçado o controlo da fronteira com a Rússia.

É neste contexto que o governo sueco está agora a utilizar um método à moda antiga para comunicar à população que tenha cuidado com os possíveis ciberataques russos: brochuras enviadas por correio.

“Em caso de crise ou de guerra” é o título da carta que os suecos vão receber nas suas casas no próximo mês, e o remetente é o Ministério da Defesa.

No texto, aconselha-se aos habitantes que mantenham algum dinheiro físico guardado, o suficiente para cerca de uma semana, e que alternem entre as duas formas de pagamento. “Se puder pagar de várias formas diferentes, estará a reforçar a sua preparação”, recomenda-se.

Neste país nórdico, já não é possível, em alguns estabelecimentos, pagar com dinheiro físico. Agora, o governo quer reverter essa lei para permitir que a população o faça sempre que quiser.

Também na Noruega há estabelecimentos que infringem a lei em vigor e não permitem que o cliente pague em numerário, o que exclui aproximadamente 600 mil pessoas que não têm acesso a forma de pagamento digitais, escreve o The Guardian.

O Ministério da Justiça e da Segurança Pública declarou agora que “recomenda a todos que mantenham algum dinheiro em caixa devido à vulnerabilidade das soluções de pagamento digital aos ciberataques”.

Também a ministra da Justiça, Emilie Mehl, quer assegurar o direito ao pagamento em numerário: “Se ninguém pagar com dinheiro e ninguém aceitar dinheiro, o dinheiro deixará de ser uma verdadeira solução de emergência quando a crise chegar”.

Max Brimberg, investigador do banco central sueco, considera um “risco potencial” o abandono do dinheiro vivo, e garante que “o numerário desempenha um papel muito específico no sistema de pagamentos, não só porque é emitido pelo Estado, mas também porque é a única forma de pagamento que podemos utilizar se os sistemas de eletricidade ou as redes de comunicação não funcionarem como habitualmente”.

Ainda assim, garantiu ao The Guardian Hans Liwång, professor de ciência de sistemas para a defesa e segurança na Universidade de Defesa da Suécia, não existem provas de que o numerário seja melhor do que os pagamentos digitais.

Mencionou o exemplo da Ucrânia, onde os sistemas digitais acabar por ser bastante úteis à resistência no conflito: “A Ucrânia é um excelente exemplo de como avançar para o futuro quando há guerra e não para trás”.

ZAP //

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