Utilizando técnicas não invasivas para manipular as nossas emoções, talvez seja possível reduzir os pesadelos que nos atormentam durante o sono.
Um estudo realizado em 36 pacientes diagnosticados com um distúrbio de pesadelo, e publicado no Current Biology. mostrou que a combinação de duas terapias simples reduziu a frequência dos seus sonhos maus.
Segundo o Science Alert, os cientistas convidaram os voluntários a reescrever os seus pesadelos mais frequentes numa perspetiva positiva e, em seguida, reproduziram sons associados a experiências positivas enquanto dormiam.
“Existe uma relação entre os tipos de emoções vividas nos sonhos e o nosso bem-estar emocional”, explicou Lampros Perogamvros, psiquiatra dos Hospitais Universitários de Genebra e da Universidade de Genebra, na Suíça, em 2022, aquando da publicação dos resultados.
“Com base nesta observação, tivemos a ideia de que poderíamos ajudar as pessoas manipulando as emoções nos seus sonhos. Neste estudo, mostramos que podemos reduzir o número de sonhos emocionalmente muito fortes e muito negativos em pacientes que sofrem de pesadelos”.
Muitas pessoas sofrem de pesadelos, que nem sempre são um simples caso de alguns sonhos maus. Os pesadelos estão também associados a um sono de má qualidade que, por sua vez, está ligado a uma série de outros problemas de saúde.
Um sono de má qualidade pode também aumentar a ansiedade que, por sua vez pode resultar em insónias e pesadelos. Estudos recentes demonstraram que os pesadelos e as perturbações do sono aumentaram durante a atual pandemia global de SARS-CoV-2.
Dado que não sabemos bem porquê, ou mesmo como, o nosso cérebro cria sonhos enquanto dormimos, o tratamento dos pesadelos crónicos é um desafio.
Um método não invasivo é a terapia de ensaio de imagens, em que os doentes reescrevem os seus pesadelos mais angustiantes e frequentes para lhes dar um final feliz. De seguida, “ensaiam” contar a si próprios essa história reescrita, tentando substituir o pesadelo.
Este método pode reduzir a frequência e a gravidade dos pesadelos, mas o tratamento não é eficaz para todos os doentes.
Em 2010, os cientistas descobriram que tocar sons que as pessoas foram treinadas para associar a um determinado estímulo, enquanto essas pessoas estão a dormir, ajuda a aumentar a memória desse estímulo. Este processo foi designado por reativação da memória direcionada e Perogamvros e os seus colegas quiseram descobrir se poderia melhorar a eficácia da terapia de ensaio de imagens.
Depois de os participantes do estudo terem preenchido um diário de sonhos e de sono durante duas semanas, os voluntários foram submetidos a uma única sessão de IRT. Nesta altura, metade do grupo do grupo foi submetido a uma sessão de TMR, criando uma ligação entre uma versão positiva dos seus pesadelos e um som.
A outra metade serviu de grupo de controlo, imaginando uma versão menos horrível de um pesadelo sem ser exposta a sons positivos.
Ambos os grupos receberam auscultadores para dormir que tocavam o som — o acorde de piano C69 — enquanto dormiam, de 10 em 10 segundos durante o sono REM, quando os pesadelos eram mais prováveis de ocorrer.
Os grupos foram avaliados após duas semanas de registos diários adicionais e, depois, novamente após três meses sem qualquer tipo de tratamento.
No início do estudo, o grupo de controlo tinha, em média, 2,58 pesadelos por semana, e o grupo TMR tinha uma média de 2,94 pesadelos semanais. No final do estudo, o grupo de controlo tinha apenas 1,02 pesadelos semanais, enquanto o grupo TMR tinha apenas 0,19. Mais promissor ainda, o grupo TMR registou um aumento dos sonhos felizes.
No seguimento de três meses, os pesadelos tinham aumentado ligeiramente em ambos os grupos, para 1,48 e 0,33 por semana, respetivamente. No entanto, trata-se ainda de uma redução impressionante da frequência dos pesadelos, afirmam os investigadores, sugerindo que a utilização do TMR como apoio ao IRT resulta num tratamento mais eficaz.
“Ficámos positivamente surpreendidos com a forma como os participantes respeitaram e toleraram os procedimentos do estudo, por exemplo, a realização da terapia de ensaio de imagens todos os dias e a utilização dos auscultadores para dormir durante a noite”, afirmou Perogamvros.
“Observámos uma rápida diminuição dos pesadelos, juntamente com sonhos que se tornaram emocionalmente mais positivos. Para nós investigadores e clínicos, estes resultados são muito promissores, tanto para o estudo do processamento emocional durante o sono como para o desenvolvimento de novas terapias”.