Salgado estampado em carro funerário, não sabe de onde vem e já foi dispensado pelo tribunal

11

Carro funerário com Ricardo Salgado estampado; lesados vestidos de preto e encapuçados; e uma “vergonha mundial, que talvez na Rússia seja apreciada”. Arrancou o julgamento do caso BES/GES.

Arrancou na manhã desta terça-feira, no Juízo Central Criminal, em Lisboa, o julgamento do processo BES/GES, que tem como principal protagonista Ricardo Salgado.

Este julgamento acontece 10 anos após o colapso do Grupo Espírito Santo (GES), num caso com mais de 300 crimes e 18 arguidos.

O principal arguido do caso BES/GES, Ricardo Salgado, de 80 anos, chegou ao Campus de Justiça (Lisboa) pelas 09h20, pouco antes da hora prevista para o início do julgamento (09h30) e foi confrontado diretamente por um lesado da falência do banco.

O antigo banqueiro Ricardo Salgado chegou amparado pela mulher e com o advogado Francisco Proença de Carvalho, demorando cerca de 10 minutos a fazer um curto percurso até à entrada do tribunal.

Rodeado por dezenas de jornalistas e alguns lesados, Ricardo Salgado foi interpelado por Jorge Novo, lesado do BES, que disse que ex-banqueiro “tinha capacidade para resolver a problema dos lesados”.

“O seu primo [José Maria] Ricciardi testemunhou aqui na porta, dizendo que foi feita uma provisão. O senhor [Ricardo Salgado] mandou-nos um documento escrito de que deixou uma provisão. Onde está a provisão do Novo Banco? Onde está a provisão? Eu estou sem o meu dinheiro. Eu exijo a provisão que é dos lesados”, disse de forma exaltada, o comerciante que perdeu mais de 100 mil euros.

Ricardo Salgado ouviu este lesado sem qualquer reação, enquanto o advogado disse apenas que falaria com a comunicação social no final.

Carro funerário e lesados encapuçados

Representantes dos lesados do Banco Espírito Santo marcaram presença junto ao Campus de Justiça, com um carro funerário onde colocaram uma fotografia de Ricardo Salgado.

Além da fotografia, pode ler-se no mesmo carro funerário, usado como forma de protesto: “Mataram as nossas poupanças agora é hora de justiça”.

A manifestação iniciou-se pelas 08h30 e atrás da carrinha havia 16 pessoas vestidas de preto, de cara tapada, e com os nomes de lesados do BES que já morreram estampados nas camisolas.

Tiago Petinga / Lusa

Um carro funerário exibe a imagem do antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, com a frase: “Mataram as nossas poupanças agora é tempo de justiça”

Em frente ao Campus de Justiça, mas do outro lado da estrada, foram colocadas tarjas onde estão escritas outras mensagens como “lesados Novo Banco” ou “exigimos a provisão”.

Defesa de Salgado pede dispensa

Logo no início do julgamento, a defesa do ex-banqueiro Ricardo Salgado pediu para que o tribunal fizesse de imediato a sua identificação formal, dispensando-o de seguida de ficar presente na sessão e de comparecer nas seguintes.

A presidente do coletivo de juízes, Helena Susano, perante a falta de oposição de Ministério Público e assistentes, deferiu o pedido para se formalizar já o procedimento: “É adequado e justifica-se tomar a identificação dos que estão e proceder então à identificação de imediato”.

Como relatou o Correio da Manhã, Ricardo Salgado foi identificado com ajuda da mulher. Não se lembrava quando nasceu nem onde mora.

A juíza perguntou a Ricardo Salgado se queria o julgamento na sua ausência, mas o ex-banqueiro não percebeu. Francisco Proença de Carvalho esclareceu que o cliente seguirá os seus conselhos.

Por fim, Ricardo Salgado diz que não quer estar presente nas outras sessões.

Entretanto, vários advogados pediram também que os seus clientes fossem julgados pelo tribunal na sua ausência.

“Vergonha mundial”, diz advogado

À saída do tribunal, antes da saída de Ricardo Salgado, o advogado de Salgado disse que o que se viveu no tribunal foi “uma página negra na Justiça portuguesa, diante de todo o mundo”.

“Uma vergonha mundial. Talvez na Rússia seja uma coisa apreciada”, descreveu Francisco Proença de Carvalho, visivelmente contrariado.

Tendo em conta os relatórios médicos que comprovam o Alzheimer de Salgado, o advogado diz não entender a lógica de obrigar o ex-banqueiro a comparecer em tribunal: “[Salgado] não tem consciência, porque tem a doença que tem, cujos efeitos são o que são”.

Arguidos recusam prestar declarações

Os 15 arguidos identificados nesta primeira sessão do julgamento recusaram, por agora, prestar declarações, depois de terem sido identificados perante o tribunal.

Além de Ricardo Salgado, estiveram, entre os arguidos que recusaram falar e fizeram a sua identificação formal, os antigos administradores Amílcar Morais Pires e Manuel Espírito Santo Silva, o contabilista Machado da Cruz, o ex-diretor do Departamento Financeiro, Mercados e Estudos (DFME) do BES Paulo Ferreira, o ex-vogal da sociedade ESAF Pedro Almeida Costa, o ex-diretor adjunto do DFME Nuno Escudeiro, o ex-responsável de ‘compliance’ do BES João Martins Pereira, os suíços Etienne Cadosch e Michel Creton, ambos ligados à sociedade Eurofin, e os ex-funcionários do DFME do BES Pedro Serra e Pedro Pinto.

Foram ainda identificadas as sociedades Rio Forte Investments, Espírito Santo Irmãos, SGPS e Eurofin, através dos seus representantes legais: Ana Paula Alves, Ricardo Salgado e Etienne Cadosch, respetivamente, que também não prestaram declarações.

Apenas os arguidos Isabel Almeida, António Soares e Cláudia Boal Faria não estiveram presentes esta terça-feira no tribunal.

O antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, é o principal arguido do caso BES/GES e responde em tribunal por 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014.

Entre os crimes imputados contam-se um de associação criminosa, 12 de corrupção ativa no setor privado, 29 de burla qualificada, cinco de infidelidade, um de manipulação de mercado, sete de branqueamento de capitais e sete de falsificação de documentos.

Segundo o Ministério Público, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.

ZAP // Lusa

Siga o ZAP no Whatsapp

11 Comments

  1. Se calhar se fosse na Russia não se safavam como se estão a safar , Portugal já é uma grande vergonha , não precisa de nenhum pais para se desculpar.

    • Na Federação da Rússia (FR) este tipo de oligarcas foram mandados investigar pelo Presidente Putin, levados a tribunal e condenados pelos seus crimes, alguns fugiram para o regime da Inglaterra que é quem controla estes criminosos.

  2. Crimes de colarinho branco têm de ser resolvidos imediatamente, há tanta gente a ficar sem nada… O estado que pague (com os rios de dinheiro que faturam com os impostos absurdos que todos nós pagamos diariamente, há-de sobrar bastante para poderem fazer face a estes b4ndidos) a quem é burlado e depois que acerte com os gatunos! Aposto que em menos de 2 meses estaria tudo tratado nos tribunais!

  3. O Advogado de Ricardo Salgado , fez duas afirmações que merecem resposta . Pagina negra na Justiça e Vergonha Mundial , tem toda a razão ; mas são as Vitimas Lesadas do BES que o declamam desde o inicio desta Telenovela sem Fim a vista . Os manifestantes tem toda a razão de denunciar esta “roubalheira” , tanto é ladrão o que rouba como o que se deixa roubar sem se defender ! ……… Portugal , bonito por fora e podre por dentro ! .

  4. Quer parecer-me que tudo isto é uma grande encenação. Uns mezinhos de treino num Actor’s Studio qualquer e o embuste está feito.

    3
    0
    • Concordo plenamente!
      Uma pessoa com Alzhimer, com as limitações que dizem que aquele senhor tem, nunca iria conseguir andar aquele caminho todo e principalmente naquele ambiente de “confusão”, nunca estaria tão “calmo e sereno”. Infelizmente, sei do que falo….
      GRANDE ENCENAÇÃO!!!

  5. vergonha mundial foi o que ele fez o que roubou, é um grande artista de cinema pode ser que uma agencia o contrate para fazer uns filmes. justiça em portugal só para os pobres,

  6. Este sacana roubou 11800 milhões de euros!!!!! Onde está este dinheiro? Como é que ele tem sequer a roupa que leva no corpo ainda? Vergonha este país de corruptos!!! Justiça popular nestes animais!

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.