O white noise é como música para os fungos (e ajuda-os a prosperar)

Os fungos podem não ter ouvidos, mas o seu crescimento parece estar sintonizado com os ruídos do ambiente que os rodeia.

Quando um estalido monótono de alta frequência, como o da estática de rádio, é tocado para a espécie de fungo Trichoderma harzianum, os investigadores descobriram que o organismo cresce e produz esporos muito muito mais rapidamente do que o normal — quase como se estivesse a alimentar-se do white noise.

Esta é uma descoberta importante, porque o T. harzianum está presente em quase todos os solos e é conhecido por colonizar as raízes das plantas e aumentar o seu crescimento.

Segundo o Science Alert, nas explorações agrícolas, esta espécie pode mesmo parasitar fungos patogénicos, que podem prejudicar as plantas.

É, portanto, possível que, ao tocar certos sons, os conservacionistas possam promover solos mais saudáveis em vários habitats e ambientes agrícolas em todo o mundo.

Wikimedia

T. harzianum

“Esforçamo-nos por encontrar novas formas de acelerar e melhorar os níveis de fungos benéficos e outros micróbios em solos degradados”, explica Jake Robinson, o ecologista microbiano, que liderou a investigação na Universidade Flinders, na Austrália.

Robinson e a sua equipa esperam que as suas investigações tenham “amplos benefícios para a recuperação de paisagens degradadas e para a agricultura para alimentar o mundo”.

Para o estudo publicado na Biology Letters, os investigadores reproduziram 30 minutos de white noise em placas de Petri de T. harzianum, mantidas em câmaras insonorizadas, durante cinco dias.

Comparativamente com as placas de Petri que foram mantidas em silêncio, as que foram expostas ao ruído branco apresentaram um maior crescimento.

É necessária mais investigação para perceber como é que este fungo do solo em particular cresce mais rapidamente na presença de white noise e se o mesmo efeito ocorre fora do laboratório. Também não é claro se a melhoria do crescimento dos fungos estimula, por sua vez, o crescimento das plantas ou das bactérias.

“Apesar da necessidade de uma investigação mais aprofundada sobre as potenciais consequências não intencionais, o nosso estudo marca um passo importante no sentido de aproveitar o som como uma ferramenta inovadora para ajudar a promover a restauração do ecossistema”, explica a equipa de Flinders.

Esta não é a primeira vez que os cientistas tentam tratar os fungos com som. Se os produtores de cogumelos ostra “tratarem” o seu micélio com determinados sons de cinco em cinco dias, há indícios de que isso pode impulsionar o crescimento dos corpos de frutificação.

Mas o som também pode ser prejudicial. Em 2020, os investigadores descobriram que o zumbido dos frigoríficos estava a aumentar o crescimento de um fungo patogénico que apodrece frutas e legumes em todo o mundo. No laboratório, a reprodução destes ruídos de alta frequência dos frigoríficos aumentou a podridrão até 18%.

No caso do T. harzianum, não se sabe ao certo porque é que o fungo cresce mais depressa e produz mais esporos na presença de ruído branco.

Robinson e a sua equipa suspeitam que as ondas sonoras ativam mecanicamente os recetores do organismo. Este sinal mecânico é depois traduzido numa tensão elétrica ou num sinal bioquímico.

Se for um sinal bioquímico, pode alterar a expressão genética ou a produção celular do fungo.

Se for convertido num sinal elétrico — o que Robinson e os colegas dizem ser menos provável —, isto pode permitir que os fungos comuniquem melhor. A atividade elétrica dos fungos, semelhante à dos nervos, foi recentemente comparada à fala humana e poderia ajudar a proteger a integridade do organismo.

Esta é uma via de investigação que ainda está na sua fase inicial, mas as provas sugerem cada vez mais que os fungos, as bactérias e as plantas podem reagir ao som de formas intrigantes e possivelmente úteis.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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