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Ex-autarca do Chega acusado de tentar matar família de estrangeiros

António Pedro Santos / LUSA

O presidente do Chega, André Ventura

Discussão levou Vítor Ramalho a disparar de caçadeira contra família de nove pessoas. PJ diz que crime teve motivação racial, mas MP só imputou um crime de homicídio simples na forma tentada.

Um ex-autarca do partido Chega foi acusado de tentativa de homicídio de uma família. Segundo a Polícia Judiciária (PJ), o crime envolveu nove pessoas — um casal e os seus sete filhos — e teria sido motivado por ódio racial.

No entanto, avança o Jornal de Notícias esta segunda-feira, o Ministério Público (MP) apresentou uma acusação menos severa, sem mencionar qualquer motivação racial. Imputou apenas um crime de homicídio simples na forma tentada ao ex-autarca no concelho alentejano de Moura.

O incidente terá tido lugar a 8 de outubro de 2021, quando Vítor Ramalho, acompanhado de uma espingarda caçadeira, disparou contra a caravana da família em dois momentos: primeiro na Póvoa de São Miguel — a freguesia que deu a maior percentagem de votos ao Chega nesse ano — e depois em Amareleja.

“Após a altercação com o elemento do género masculino do casal, o suspeito perseguiu a viatura onde seguiam as vítimas, executando o crime assim que se mostrou oportunidade”, referiu a PJ. Após a agressão, o suspeito “abandonou o local” e esforçou-se por “ocultar das autoridades objetos e veículos utilizados” na sua execução.

A família sueca, que se deslocava na autocaravana, não sofreu ferimentos, apesar dos disparos. A PJ encontrou marcas de chumbo no veículo e concluiu que se tratava de uma tentativa de homicídio qualificado, mas o MP não encontrou indícios suficientes para acusar o arguido de múltiplos crimes ou de homicídio qualificado, tendo optado então pela acusação mais leve.

A PJ identificou o ataque como possivelmente motivado por ódio racial, uma vez que ocorreu após uma discussão entre o arguido e o pai da família.

“O arguido incorreu na prática de nove crimes de homicídio qualificado na forma tentada”, lê-se no despacho da acusação, mas havia “insuficiência de indícios quanto ao número de crimes”.

Vendeu 13 armas após o crime

Após os disparos, Vítor Ramalho terá tentado esconder provas: vendeu 13 armas no decorrer do mês que se seguiu ao crime, todas elas apreendidas. Como medida cautelar, o arguido foi proibido de usar qualquer arma e de contactar a família estrangeira.

O ex-autarca, que tinha sido eleito para a Junta de Freguesia de Póvoa de São Miguel pouco antes do incidente, renunciou ao seu mandato 11 dias após os disparos.

Na altura, Ventura condenou “quaisquer crimes que envolvam ataques contra a vida ou integridade física”, e reforçou que o Chega não defende “o ódio racial”.

ZAP //

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