Em 1514, o rei Manuel I ofereceu um elefante albino ao Papa

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O Elefante Hanno (Raphael, 1516).

Da Índia a Roma: acompanhemos a trágica viagem de Hanno, o elefante albino de estimação que O Venturoso ofereceu ao Papa Leão X.

No início de 1514, uma pequena cidade italiana chamada Tarquinia fervilhava de excitação. Multidões reuniram-se para assistir a um espetáculo diferente de tudo o que tinham visto antes — “algo especial”, como descreve a historiadora Annemarie Jordan Gschwend,

Esse “algo especial” era Hanno, um elefante oferecido pelo rei português D. Manuel I ao Papa Leão X.

A excitação foi tão grande que a estalagem onde Hanno se encontrava não conseguiu acomodar a multidão e… o teto caiu, recorda a autora de The Story of Süleyman: Celebrity Elephants and Other Exotica in Renaissance Portugal.

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O Elefante Hanno (Raphael, 1516).

Da Índia a Lisboa, amarrado ao mastro

A viagem de Hanno começou em Kochi, uma cidade controlada pelos portugueses na Índia. Nascido por volta de 1510, o elefante foi criado por tratadores indianos, conhecidos como mahouts, que o treinaram para obedecer a várias ordens.

Ainda muito jovem, o rei D. Manuel I — que gostava particularmente de exibir os seus elefantes em desfiles — comprou Hanno, já com a intenção de o oferecer como um grande presente ao Papa.

A viagem do elefante foi longa e árdua: foram mais de com mais de 7.000 quilómetros em linha reta, embora a distância real fosse muito maior devido à rota marítima.

No início de 1511, Hanno deixou a sua casa em Kochi. Acompanhado pelos seus mahouts, foi colocado num navio e embarcou numa viagem de seis meses à volta do Cabo da Boa Esperança, acabando por chegar a Lisboa.

A viagem foi tudo menos confortável para o jovem elefante. Exposto ao sol e à chuva, amarrado ao mastro do navio durante as tempestades e esfregado com óleo para se proteger do ar salgado, Hanno passou por grandes dificuldades.

Sabendo o que sabemos hoje das tão sociais criaturas que são os elefantes, o isolamento e o medo terão sido avassaladores para Hanno, sozinho, sem o conforto da sua manada.

“É claro que Hanno ficou traumatizado”, diz Sangita Iyer, autora e diretora executiva fundadora da Voices for Asian Elephants, ao Atlas Obscura. “Quando os jovens elefantes temem qualquer coisa que aconteça no mundo exterior”, explica, e Hanno não teve esse consolo.

De Lisboa a Roma

Chegado a Lisboa, Hanno mal teve tempo de recuperar da viagem traumática. Em 1514 voltou a viajar, desta vez, como parte de um luxuoso pacote de presentes do Rei D. Manuel I para o Papa Leão X.

Juntamente com Hanno, o navio levava manuscritos, pedras preciosas, papagaios, uma chita e outros animais exóticos. Mas de todos os animais que chegavam, os elefantes “eram as super-estrelas. Eram a derradeira prenda que um governante da Europa Ocidental podia desejar”, escreve a historiadora.

Em todos os locais onde o navio parava durante a viagem, o povo juntava-se para ver o magnífico elefante.

Depois de várias e cansativas paragens, Hanno e a sua comitiva chegaram finalmente a Porto Ercole, uma pequena cidade na Toscânia. A partir daí, seguiram a pé em direção a Roma, atraindo ainda mais multidões pelo caminho.

A superfície dura da estrada magoava as gigantes patas do pobre elefante e a atenção constante deixava-o nervoso. Estava exausto quando chegou à capital — onde mais festejos o esperavam.

No dia 19 de março de 1514, o elefante de quatro anos fez uma entrada triunfal em Roma. Carregava uma estrutura prateada em forma de castelo às costas e fazia saudações com a tromba. Rapidamente se tornou num dos bens favoritos do Papa Leão X, que via em Hanno um símbolo do poder e prestígio.

Doença ditou o fim de uma vida em cativeiro

A vida de Hanno em Roma foi curta. Em junho de 1516, com apenas seis anos de idade, adoeceu.

Apesar dos esforços dos melhores médicos de Roma, que o trataram inclusive com remédios destinados a humanos — como sangrias e um purgante com ouro — Hanno sucumbiu à doença a 8 de junho.

“Nada mudou”

A história de Hanno, apesar de parecer distante, é infelizmente muito contemporânea. Os elefantes continuam a ser capturados, separados das suas famílias e utilizados para mostrar estatuto e riqueza.

“Nada mudou, e essa é a parte triste. Os elefantes continuam a ser considerados um símbolo de estatuto”, diz Iyer.

Tomás Guimarães, ZAP //

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