Uma equipa de cientistas investigou a possibilidade de os seres humanos detetarem as propriedades térmicas da água através do seu som.
Investigadores da Universidade Reichman, em Israel, exploraram recentemente uma capacidade até então desconhecida dos seres humanos e utilizaram machine learning para esclarecer a dinâmica da perceção intermodal, isto é, a experiência de interações entre modalidades sensoriais diferentes.
Com base nos princípios da integração multissensorial – a forma como o cérebro combina informações de várias modalidades sensoriais para formar uma perceção do ambiente -, a equipa analisou o potencial da perceção térmica multissensorial.
“A perceção da temperatura é bastante única em comparação com outras experiências sensoriais”, começou por afimar Adi Snir, citado pelo EurekAlert.
“Para a visão e a audição, dedicamos ‘órgãos’ sensoriais como olhos e ouvidos, mas para a temperatura contamos com recetores especializados na pele que respondem a várias faixas que experimentamos como calor e frio. No entanto, no reino animal sabemos, por exemplo, que as cobras podem realmente ‘ver’ o calor do corpo, o que lhes permite identificar a presa”, continuou.
Estudos anteriores já investigaram se a perceção multissensorial da temperatura se estende aos seres humanos mas, apesar de terem provado que conseguimos ouvir uma diferença entre líquidos quentes e frios enquanto são derramados, não clarificaram como é que tal acontece.
Num primeiro momento, os cientistas replicaram as descobertas anteriores e confirmaram esta surpreendente capacidade percetiva, além de terem conseguido esclarecer se é inata ou adquirida ao longo do tempo.
Nas suas várias experiências, a equipa usou uma rede neural profunda pré-treinada para caracterizar gravações de várias temperaturas de água a ser derramada, um algoritmo de machine learning para classificar as propriedades térmicas da água e análise computacional das características auditivas de cada gravação.
“Os participantes do nosso estudo foram consistentemente capazes de discernir a temperatura da água através do seu som, mesmo quando não acreditavam que conseguiam, um resultado que sugere que, muito provavelmente, se trata de uma capacidade implícita adquirida através da exposição a pistas auditivas ao longo da vida“, explicaram os investigadores.
O modelo de machine learning treinado com gravações de água quente e fria também apresentou uma alta precisão na classificação dos sons.
Estes resultados demonstram que os seres humanos têm a capacidade de aprender mapeamentos sensoriais complexos a partir de experiências quotidianas. O próximo passo é verificar se as pessoas irão ou não desenvolver novos mapas sensoriais no cérebro para esta experiência, da mesma forma que fazem para visão, tato e audição.
O artigo científico foi publicado, recentemente, na Frontiers in Psychology.