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Primeiro transplante de pénis realizado com sucesso na África do Sul

Uma equipa de médicos sul-africanos anunciou ter realizado o primeiro transplante de pénis bem-sucedido do mundo, três meses após a inovadora operação.

O doente, de 21 anos, tinha sofrido uma amputação do pénis há três anos, após uma infeção causada por uma circuncisão mal feita numa cerimónia de iniciação tradicional africana.

Numa operação de nove horas, efetuada no Hospital Tygerberg, na Cidade do Cabo, o paciente recebeu o seu novo pénis de um dador morto, a cuja família os médicos agradeceram.

“Provámos que pode ser feito – podemos dar a alguém um órgão tão bom como o que tinha”, disse Frank Graewe, diretor do serviço de cirurgia plástica reconstrutiva da Universidade Stellenbosch, no Sudoeste da África do Sul. “Foi um privilégio participar no primeiro transplante de pénis bem-sucedido em todo o mundo”, acrescentou.

Os médicos indicaram que o homem, cuja identidade não foi revelada, fez uma recuperação total desde a operação, a 11 de Dezembro, e recuperou todas as funções urinárias e reprodutivas.

“O nosso objetivo era que ele estivesse totalmente funcional ao fim de dois anos e estamos muito surpreendidos com a sua rápida recuperação”, afirmou Andre van der Merwe, diretor do serviço de urologia de Stellenbosch.

Trauma da perda do pénis

Um transplante semelhante tinha já sido feito em 2006, na China, mas ao fim de duas semanas os médicos tiveram de remover o órgão devido a “um grave problema psicológico do recetor e da sua mulher”.

Todos os anos, muitos adolescentes sofrem amputações de pénis em consequência de circuncisões mal feitas em cerimónias de iniciação.

“Existe na África do Sul uma maior necessidade deste tipo de procedimento do que no resto do mundo”, sublinhou Van der Merwe em comunicado.

Os adolescentes africanos de alguns grupos étnicos passam cerca de um mês isolados no mato ou em regiões montanhosas como parte da sua iniciação à idade adulta. A experiência inclui circuncisão, bem como lições de coragem e disciplina masculinas.

No ano passado, uma comissão concluiu que 486 rapazes tinham morrido nas escolas de iniciação de inverno entre 2008 e 2013, sendo uma das principais causas complicações provocadas por infeções pós-circuncisão.

“Para um jovem de 18 ou 19 anos, a perda do pénis pode ser profundamente traumática e ele não tem necessariamente a capacidade psicológica para processar isso, havendo mesmo casos de suicídio”, observou Van der Merwe.

Os heróis da história

O médico descreveu o dador anónimo e a sua família como “os heróis” desta história.

“Eles salvaram as vidas de muitas pessoas, porque doaram o coração, os pulmões, os rins, o fígado, a pele, as córneas e o pénis”, frisou.

A equipa sul-africana é composta por três médicos experientes, coordenadores de transplantes, anestesistas, enfermeiros, um psicólogo e um especialista em ética.

Os cirurgiões da Universidade de Stellenbosch e do Hospital Tygerberg tinham procurado intensivamente um dador compatível como parte de um estudo piloto para desenvolver os transplantes de pénis em África.

Algumas técnicas utilizadas foram desenvolvidas a partir do primeiro transplante facial, em França, em 2005. A equipa tenciona, agora, realizar mais nove operações semelhantes.

A África do Sul é, há muito, pioneira nas cirurgias de transplante: em 1967, Chris Barnard realizou o primeiro transplante de coração no Hospital Groote Schuur, na Cidade do Cabo.

O cidadão chinês que rejeitou o seu novo pénis em 2006 recebeu o órgão transplantado quando os pais de um homem em morte cerebral aceitaram doá-lo.

/Lusa

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