Não é humilhação, não são problemas mentais. “Os nossos cérebros estão programados para reparar em coisas estranhas”.
Milhões de pessoas fazem o que outros fazem. Seguem tendências, modas, que se tornaram mais fáceis de identificar – e de imitar – por causa da internet e sobretudo por causa das redes sociais.
Mesmo quando as tendências são um disparate, ou até colocam em risco a nossa saúde, há quem siga a onda.
Porque estamos programados para mostrar as nossas ligações, além de nos querermos actualizar ou mudar algo na nossa vida.
A psicóloga Pamela B. Rutledge garante que seguir tendências não é um sinal de fraqueza de carácter nem de problemas de saúde mental.
Especializada em ciência psicológica por detrás da tecnologia e das redes sociais, Pamela disse na National Geographic que esta atitude é normal. É uma questão de “conexão social”.
O ser humano tem a necessidade fundamental de pertencer a um grupo social e estabelecer ligações com o outro. Nada de novo.
“A conexão social é uma motivação primária. Na verdade, era necessária para a nossa sobrevivência no passado. Somos muito movidos pelo comportamento tribal”, lembra.
Há psicólogos que defendem que as ligações humanas são tão importantes como comer e ter uma casa. Nós dependemos uns dos outros, foi esse o caminho da nossa evolução.
A evolução humana preparou os nossos cérebros para se sintonizarem com os sinais sociais.
Cognição social
Aqui entra a cognição social, que dita aquilo em que reparamos e a forma como reagimos aos outros.
Ocorre maioritariamente nas zonas do cérebro que supervisionam a visão, o reconhecimento de padrões, a tomada de decisões, a empatia e funções similares.
As zonas em causa são a amígdala (que detecta o perigo e a diferença) e o córtex pré-frontal (envolvido na função executiva de ordem superior e na tomada de decisões).
Para os nossos cérebros, é “fácil” identificar padrões e adoptar comportamentos que transmitam o nosso estatuto social.
“Podemos usar quase qualquer coisa para mostrar a nossa pertença ou afiliação a determinado grupo social”, segundo a psicóloga.
“Coisas estranhas”
Nós queremos estar ligados, ou pertencer, a um determinado grupo. Para isso, tentamos emitir os sinais sociais certos para os outros interpretarem; são os sinais de identidade – como um adereço de um partido político ou a camisola que vestimos. É uma sensação de pertença, não só a um grupo, mas a uma cultura no geral.
Se as modas passam a ser seguidas por muitas (demasiadas) pessoas, temos a tendência…de seguir outra tendência. Para mostrar que estamos na vanguarda da cultura .
As tendências, mesmo as mais esquisitas ou até perigosas, são atraentes porque “os nossos cérebros estão programados para reparar em coisas estranhas”, explica Rutledge. Se algo não for normal, temos que ir ver o que é.
Córtex pré-frontal
E ninguém está livre de querer seguir modas. Por muitas afirmações de estatuto que tenhamos, qualquer um de nós pode reparar nas tendências, ou demonstrar a sua pertença a grupos sociais.
Há três grupos que seguem mais tendências do que outros. Sem surpresas, são: pré-adolescentes, adolescentes e jovens adultos. É uma forma de liberdade, de mostrar individualidade.
Também há uma explicação neurológica para (sobretudo os adolescentes) imitarem modas perigosas: o córtex pré-frontal.
É que essa zona do cérebro é associada à lógica e à tomada de decisões. E é a última zona a desenvolver-se plenamente. Ou seja, não admira que os adolescentes comam pastilhas de detergente para a loiça ou inalem canela para impressionarem os amigos.