186 mil mortos em Gaza: estimativa apoiada pela ONU causa polémica

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Estimativa “conservadora” e “ilustrativa” de mortes diretas e indiretas provocadas por Israel em Gaza foi publicada numa das revistas médicas mais conceituadas do mundo. E muitas das mortes podem ainda não ter acontecido.

A estimativa assustadora surgiu na semana passada numa das revistas médicas mais conceituadas do mundo, The Lancet, num artigo intitulado de “Contar os mortos em Gaza: difícil mas essencial”.

No pequeno artigo publicado na revista fundada em 1823 lê-se que, se contarmos as mortes direta e indiretamente resultantes dos ataques israelitas, o número de habitantes mortos em Gaza é equivalente a pelo menos 186 mil pessoas — um número impressionante, olhando para o total de 38,345 mortes anunciadas na quinta-feira pelo Ministério da Saúde do território dirigido pelo Hamas.

“Não é implausível estimar que até 186.000 ou mesmo mais mortes possam ser atribuídas ao atual conflito em Gaza”, escrevem os autores, partindo do princípio de que “os conflitos armados têm implicações indiretas para a saúde para além dos danos diretos da violência”.

“Em conflitos recentes, essas mortes indiretas variam entre três e 15 vezes o número de mortes diretas. Aplicando uma estimativa conservadora de quatro mortes indiretas por cada morte direta às 37 396 mortes registadas, não é implausível estimar que até 186 000 ou mesmo mais mortes possam ser atribuídas ao atual conflito em Gaza. Utilizando a estimativa da população da Faixa de Gaza para 2022, de 2 375 259 habitantes, isto traduzir-se-ia em 7-9% da população total da Faixa de Gaza“.

Os autores, que defendem a abordagem por considerarem ser difícil recolher números exatos no terreno, afirmam ainda que muitas destas mortes indiretas podem ainda não ter ocorrido.

“Os conflitos armados têm implicações indiretas para a saúde para além dos danos diretos da violência. Mesmo que o conflito termine imediatamente, continuarão a ocorrer muitas mortes indiretas nos próximos meses e anos”, lê-se no artigo.

De onde vêm os números “ilustrativos”?

A estimativa de “quatro mortes indiretas por uma morte direta” é proveniente de um relatório de 2008 do Secretariado a Declaração de Genebra sobre Violência Armada e Desenvolvimento, que diz que “estudos mostram que entre três e 15 vezes mais pessoas morrem indiretamente por cada pessoa que morre violentamente” onde há conflitos armados.

Até ao momento, os autores não explicaram o porquê de terem escolhido, entre três e 15, quatro para proceder à sua estimativa.

A publicação, que não é apresentada como um artigo académico revisto por pares (o método padrão para validar resultados de uma investigação científica), mas sim como uma “carta”, levantou suspeitas de quem está do lado de Israel, que questiona a natureza do artigo classificado como correspondência enviada por autores externos — os médicos Rasha Khatib, Martin McKee e Salim Yusuf.

Apenas três dias após a publicação do artigo, um dos autores veio defender-se das acusações. Martin McKee disse que o artigo “foi muito mal citado e mal interpretado” e sublinhar que a estimativa é “puramente ilustrativa”.

A conceituada revista também vinca, em comunicado enviado ao The Jerusalem Post, que os 7 a 9% de mortes em Gaza são apenas estimativas.

A secção correspondência é normalmente composta por “reflexões” dos leitores que “normalmente não são revistos por pares”, explica a revista científica.

ONU e Médicos do Mundo defendem artigo

Apesar de pouco sustentados, há quem esteja empenhado em propagar os dígitos. A relatora da ONU Francesca Albanese já citou a publicação.

“Se incluirmos as mortes diretas e indiretas da agressão de Israel, o número de mortos em Gaza sobe para 186.000 pessoas, de acordo com a revista médica The Lancet. Isso é 1 em cada 12 habitantes de Gaza morto nos últimos 9 meses de genocídio”, escreveu na rede social X esta segunda-feira.

Os Médicos do Mundo também acreditam que a estimativa é “credível” e “coerente com a situação sanitária, militar e geopolítica devido ao bloqueio marítimo, aéreo e terrestre imposto à Faixa de Gaza”, cita a France 24.

“Desde novembro/dezembro que tenho vindo a afirmar que os números apresentados são subestimados em relação à realidade, num contexto em que há muita propaganda em torno do número de mortos, como acontece em muitos conflitos e não apenas em Gaza. Desde o início da controvérsia sobre os números do Ministério da Saúde do Hamas, que provavelmente estão errados, tenho dito que provavelmente estão errados, mas porque estão subestimados”, completou Jean-François Corty, médico e presidente da ONG.

“Se acrescentarmos as pessoas que provavelmente morrerão de subnutrição ou em resultado de feridas infligidas pelos bombardeamentos israelitas nas próximas semanas e meses, devido aos riscos de superinfeção e porque a sua patologia será tratada tardiamente, então sim, o número de 186.000 mortes mencionado no The Lancet é credível“.

E muitos outros meios de comunicação social foram atrás.

Tomás Guimarães, ZAP //

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5 Comments

  1. Mesmo ignorando os 186.000, 38,345 mortos é mais do que suficiente para encher de vergonha os políticos Israelitas e quem os apoia.

    De notar que campanha de ocupação da Palestina está à muito em marcha, com a criação de ‘colonatos’ bem dentro de território Palestiniano. Este ataque do Hamas, caiu como sopa no mel para o governo Israelita que pode destruir a seu bel prazer.

    A seguir vão procurar por todos os meios possíveis e imaginários dificultar ou até impedir a reconstrução e depois, ocupam tudo o que destruíram, com ‘colonatos’, que mais não são do que desculpas para deslocar forças militares para dentro da Palestina para ‘proteger’ os ‘colonos’.

    É uma vergonha!!

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  2. Uma vergonha para o mundo e, acima de tudo, para a europa! É completamente vergonhoso, ultrajante, criminoso e cruel a forma como a europa tem virado a cara para o lado neste genocídio! Mas, a história não esquece, a história não perdoa!

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  3. Dos 38.345 mortos, 10.000 devem ser o resultado normal de uma população de 2 milhões enquanto os terroristas do hamas mortos são pelo menos 15.000. Os outros são o resultado de um grupo terrorista resistir ao meio de uma população que lhe apoia e serve como escudo humano numa batalha para a sobrevivência do Estado de Israel que foi constituído pela ONU enquanto ainda nem falámos dos reféns que os palestinianos estão a matar lentamente.

  4. Bem, ao que parece ainda não foi suficiente porque eles ainda continuam a dar o corpo ao manifesto para protecção do Hamas…
    Tenho pena das criancinhas pequenitas que ainda não percebem ao que estão… mas os outros, podem sempre, entre eles, acabar com o Hamas autonomamente e tínhamos uma quantidade de mais valias. Acabava a tal chacina, eles ficavam bem, Israel ficava bem e o mundo ficava bem e não se precisava de falar mais nisto…
    Mas não… eles são islâmicos…
    As pessoas que os defendem, podiam era ir para lá ajuda-los…

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