A depressão é uma das doenças psiquiátricas mais comuns, afetando, em alguma fase da sua vida, uma em cada quatro mulheres e um em cada dez homens. Um comprimido com cetamina apresenta-se agora como alternativa aos tratamentos intravenosos, com menos efeitos secundários desagradáveis.
A cetamina é talvez mais conhecida como um tranquilizante para cavalos e droga recreativa, mas nos últimos anos os cientistas têm explorado o potencial deste fármaco como um tratamento para a depressão grave.
O medicamento é normalmente administrado por via intravenosa, em clínicas especializadas, mas um novo comprimido de libertação lenta poderá ajudar a torná-lo acessível a mais pessoas.
Num novo estudo, uma equipa de cientistas descobriu que um comprimido com cetamina pode ser uma alternativa aos tratamentos intravenosos da depressão, proporcionando menos efeitos secundários.
A substância é conhecida como anestésico e sedativo indicado para cirurgias ou procedimentos médicos que não necessitem de relaxamento muscular. Nos últimos anos também tem sido utilizada como tratamento da depressão grave.
No novo estudo, publicado esta segunda-feira na Nature Medicine, os investigadores descobriram que um comprimido com cetamina apresenta efeitos antidepressivos em pessoas que não tinham tido bons resultados com outros medicamentos.
“O facto de, potencialmente, podermos administrar esta substância em casa, se quisermos, faz com o tratamento que seja muito mais fácil”, realça o primeiro autor do estudo, Paul Glue.
O medicamento é normalmente administrado por via intravenosa ou através de um spray nasal. Ambos os métodos podem levar a graves efeitos secundários, incluindo tensão arterial elevada, aumento do ritmo cardíaco e dissociação.
Segundo a Nature, os investigadores propuseram que um comprimido de libertação prolongada poderia ser uma opção bem tolerada e conveniente para as pessoas com depressão grave ou resistente ao tratamento.
O medicamento, denominado R-107, foi administrado a 231 participantes no estudo. Todos eles apresentavam alguma perturbação depressiva.
Na primeira parte do estudo, todos os participantes receberam uma dose diária de 120 miligramas de R-107 durante cinco dias. Seguidamente, os que não apresentaram melhorias foram descartados do estudo, deixando 168 para completar a segunda parte.
A segunda fase consistiu num ensaio clínico com a duração de 12 semanas, no qual os doentes tomaram comprimidos de placebo ou uma de quatro doses de R-107 (30, 60, 120 ou 180 miligramas) duas vezes por semana.
Após as 13 semanas de tratamento, 71% dos participantes que tomaram placebo tiveram uma recaída, em comparação com 43% dos que receberam a dose mais elevada de R-107. Os efeitos secundários registados foram mínimos.
Apesar destes resultados, é necessário avançar para a terceira fase de investigação de modo a conhecer totalmente a segurança do medicamento.
Para atenuar estas preocupações, o R-107 foi concebido de modo a ser duro e difícil de fragmentar, o que significa que não pode ser esmagado — uma prática típica dos consumidores recreativos.
Por fim, estão a ser realizados mais estudos de modo a explorar a eficácia da cetamina no tratamento de outras doenças psiquiátricas, incluindo perturbações relacionadas com o consumo de álcool.
“Nenhum dos medicamentos que temos funcionou particularmente bem para pessoas viciadas em álcool. Por isso, se fosse possível iniciar a abstinência com cetamina, isso seria fantástico”, conclui Glue.