A magia acontece muito raramente no verão, em territórios árticos, graças ao aumento das temperaturas globais. Machos pardos aventuram-se no gelo marinho e acasalam com fêmeas polares.
Com o aumento das temperaturas globais, os ursos pardos estão a aventurar-se cada vez mais em territórios árticos tradicionalmente ocupados por ursos polares. Este improvável encontro leva, em ocasiões raríssimas, ao nascimento de híbridos conhecidos como “ursos grolares”.
Estes híbridos são a descendência de machos de ursos pardos e de fêmeas de ursos polares, em contraste com os “pizzlies“, produzidos pelo emparelhamento inverso.
De acordo com uma nova investigação publicada no Conservation Genetics Resources, estes híbridos continuam a ser extremamente invulgares. A interação entre estas espécies ocorre normalmente durante os meses de verão na costa continental do Arquipélago Ártico Canadiano, quando os ursos polares aguardam a formação de gelo marinho.
Esta sobreposição sazonal não coincide normalmente com a época de acasalamento dos ursos polares no inverno, que ocorre no gelo marinho onde caçam focas. No entanto, foram observados machos pardos a aventurarem-se no gelo marinho nestas áreas, acasalando ocasionalmente com as fêmeas de urso polar que aí se encontram.
A ausência de fêmeas de ursos-pardos nestes ambientes remotos de gelo impede a formação de pizzlies, com a natureza agressiva dos ursos-pardos machos a inclinar ainda mais a descendência híbrida para os ursos-polares.
Para investigar a frequência destes híbridos, uma equipa internacional apoiada pelo Environment and Climate Change do Canadá desenvolveu uma nova ferramenta de monitorização genética, que utiliza um chip inovador de sequenciação genética SNP concebido para detetar híbridos ocultos através da análise de amostras de ADN de ambas as espécies de ursos.
Os investigadores examinaram 371 amostras históricas de ursos polares e 440 amostras de ursos pardos do Canadá, Alasca e Gronelândia: identificaram apenas oito casos de híbridos de ursos pardos.
“Não descobrimos novos híbridos, o que sugere que, embora a hibridação ocorra, está até agora restrita a uma pequena parte do Ártico ocidental”, explicou a investigadora e coautora do estudo Ruth Rivkin, ao IFLScience: “No entanto, o nosso trabalho é uma mais-valia para o mundo da conservação porque permite uma monitorização fácil e relativamente barata dos híbridos numa base contínua.”