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Estudo explica porque há tantos estádios vazios em Portugal

Radiografia do panorama do futebol em Portugal foi feita pelos próprios adeptos. A quota de sócio é mais cara do que em muitos outros países.

O preço da quota de associado de clube, os horários dos jogos e a distância para os estádios da I Liga portuguesa de futebol são fatores dissuasores para adeptos em Portugal, conclui um estudo da Universidade do Minho.

O artigo “Porque estão os estádios vazios em Portugal?”, publicado na Soccer & Society em fevereiro, é “uma radiografia feita pelos adeptos” das condições dos estádios do futebol profissional no masculino em Portugal, mais concretamente na I Liga, publicado por Ângela Monteiro, em trabalho de mestrado, e Paulo Reis Mourão.

Entre as principais conclusões, pode ler-se no trabalho, está o peso na decisão do adepto do preço dos bilhetes, os “horários a que as partidas são realizadas, e a distância das viagens de ida e volta dos estádios”, bem como “as quotas de sócio e as vantagens que os clubes oferecem, datadas para os dias de hoje”.

O valor da quota de sócio, que fica “em termos relativos mais caro em Portugal do que em muitos outros campeonatos“, dificulta a adesão, não só nos campeonatos profissionais como abaixo disso, nota o especialista Paulo Reis Mourão, em entrevista à Lusa.

“Temos, de facto, quotas caras, face ao rendimento médio do português, como também temos bilhetes caros face ao rendimento médio”, alerta o investigador.

Segundo Paulo Reis Mourão, este facto, bem como a distância em termos de receitas dos clubes excetuando transferências dos clubes portugueses para o resto da Europa, mostra “um grande desequilíbrio do futebol profissional a nível europeu”, um desequilíbrio “depois reproduzido internamente”.

“O trabalho em si permitiu verificar isso, uma ‘décalage’ nas quotas e o valor alto dos bilhetes, isto face ao rendimento médio no país. Mostra que, quando temos um estádio cheio em Portugal, esses adeptos fizeram um esforço maior perante o rendimento nacional do que se tivessem remunerações alemãs a ver um jogo alemão”, analisa.

Os horários, que são valorizados na vertente da transmissão televisiva, fazem com que a estratégia se delineie “sem pensar no adepto que tem família, que trabalha no dia seguinte”, o que é “somado à distância, com os adeptos a fazer dezenas ou centenas de quilómetros para ver um jogo”, o que comporta custos e gasto de tempo.

“Perguntávamos aos respondentes o que gostariam de ter nos jogos para complementar ou tornar o preço menos caro e referiam a possibilidade de ter refeições nos estádios, oferecidas, o parqueamento assegurado, confortável e seguro, mas também os descontos em marcas ou produtos ao longo da semana a partir do bilhete pago”, elenca Paulo Reis Mourão, como sugestões.

O investigador explica que a radiografia da situação permite “refletir em novas formas de negócio que os clubes podem gerar, de forma a tornar o produto como é o jogo de futebol profissional mais interessante para o adepto do século XXI”.

Esta questão leva a uma expectativa, legítima segundo os investigadores, de que a filiação ou associação entre a pessoa e uma agremiação desportiva “lhe proporcione ganhos de vária ordem, como descontos, ‘vouchers’, confortos durante o jogo para si e a família”.

“O adepto, para lá do bilhete, o custo primário, gasta em média mais 15 a 20 euros noutras despesas associadas. O adepto não está disposto a pagar muito mais. O adepto português já se sente exausto em termos de capacidade de despesa quando vai a um estádio de futebol”, aponta Paulo Reis Mourão.

Olhando para a frente, há “algumas pistas” que saltam do artigo, a começar pela necessidade de Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) “olharem para modelos de negócio, que estimulem junto dos clubes, que possibilitem uma oferta alargada” ao adepto.

“O adepto, no século XXI, tem exigências diferente do do século XX. Valoriza poder perceber que o clube o ajuda com alguns gastos primários, nomeadamente a alimentação ou o merchandising, que o adepto não tem de ficar com essa despesa sob o seu ónus”, explica o investigador.

Segundo o docente universitário, a ligação entre clubes “e a economia envolvente” e os descontos em rede, mas também a comunicação mais eficiente das suas parcerias, são aspetos a trabalhar.

// Lusa

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