A Moldova tem um trunfo na manga para travar a investida russa na Transnístria

IAEA Imagebank / Flickr

Victor Parlicov, Ministro da Energia da Moldova

A Moldova está a apostar em fontes alternativas de energia e a reduzir a independência da região separatista pró-russa da Transnístria.

Pela primeira vez desde a sua independência no início da década de 1990, a Moldova parece estar pronta a libertar-se da influência russa. Este desenvolvimento segue-se a décadas de um conflito congelado em torno da Transnístria, uma região separatista apoiada pelo Kremlin, com a tensão a subir de tom desde o início do conflito armado na Ucrânia. No entanto, a estratégia para eliminar o controlo russo comporta riscos significativos, podendo desencadear uma crise humanitária dentro das suas fronteiras.

Sob a liderança do Presidente Maia Sandu, pró-UE, a Moldova deu passos significativos no sentido da integração europeia. Nos últimos anos, a nação reduziu a sua dependência energética da Rússia, com fontes alternativas e desenvolvimento de infra-estruturas que a ligam mais estreitamente às redes europeias. O afastamento da Moldávia da energia russa está a desafiar o status quo de longa data.

A Transnístria, onde vivem cerca de 250 mil pessoas, beneficiou durante muito tempo de acordos económicos que trocavam energia russa a preços elevados por estabilidade financeira. Este acordo também serviu os interesses de Moscovo, mantendo uma influência estratégica na região.

No entanto, o avanço da Moldova no sentido da independência energética ameaça desestabilizar a economia da Transnístria, podendo deixar os seus residentes, que são maioritariamente cidadãos moldavos, em situação difícil, realça o Politico.

“A Moldova já não depende da Transnístria. Quando se trata de gás, compramos gás no mercado internacional. Do lado da electricidade, estamos a construir linhas de alta tensão para nos ligarmos à Roménia”, explica o Ministro dos Negócios Estrangeiros Mihai Popșoi.

A mudança é um problema para a Transnístria — que deixa de ter a Moldova a financiar um movimento separatista dentro do seu próprio país — mas também para a Moldova, já que a interrupção dos pagamentos russos à região deixaria centenas de milhares de pessoas sem rendimentos e serviços básicos. Embora a transição coloque desafios imediatos, os benefícios a longo prazo da reintegração e da soberania superam os riscos, acreditam os responsáveis moldavos.

“As elites da Transnístria já reconhecem que compramos eletricidade da região não porque sejamos obrigados a fazê-lo, mas porque a alternativa é lançar a região numa crise humanitária”, explica o Ministro da Energia da Moldova, Victor Parlicov.

A dinâmica geopolítica na região acrescenta camadas de complexidade aos planos da Moldávia. Cerca de 1500 soldados russos permanecem estacionados na Transnístria, uma herança dos acordos pós-soviéticos. Estas forças, juntamente com as dependências económicas e a presença de um dos maiores arsenais da Europa na região, sublinham o equilíbrio delicado que a Moldova tem de manter.

A União Europeia tem desempenhado um papel crucial no apoio à transição da Moldova. A assistência financeira e infraestrutural de Bruxelas tem sido fundamental para diminuir a dependência energética em relação à Transnístria e, por extensão, à Rússia. Este apoio faz parte de uma estratégia mais vasta da UE para estabilizar a Europa Oriental e reduzir a influência russa.

No entanto, a situação continua repleta de riscos. As autoridades da Transnístria procuraram obter o apoio de Moscovo, considerando que a Moldova está a fazer um bloqueio económico. Entretanto, a Rússia continua a exercer pressão para tentar travar a aproximação europeia à Moldova.

Numa altura em que a Moldávia se aproxima de eleições presidenciais e parlamentares de importância crítica, o resultado poderá determinar a futura direção do país e a viabilidade das suas aspirações a uma adesão à União Europeia.

Adriana Peixoto, ZAP //

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