Nos laboratórios da Universidade de Cambridge, os investigadores estão à beira de avanços revolucionários que poderão redefinir as fronteiras da saúde reprodutiva das mulheres.
A liderar esta iniciativa está Staša Stanković, cujo trabalho no Addenbrooke’s Hospital pode potencialmente alargar a janela natural de fertilidade das mulheres e atrasar o início da menopausa.
O objetivo da investigação de Stanković é compreender a contagem decrescente biológica da reserva ovárica de uma mulher – o número finito de óvulos com que as mulheres nascem. Stanković tem como objetivo preservar a quantidade e a qualidade dos óvulos durante um período mais longo.
Este objetivo ambicioso resulta de mais de cinco anos de investigação intensiva para desenvolver um teste preditivo para determinar a idade da menopausa de uma mulher com elevada precisão. Atualmente, o teste prevê o momento da menopausa com uma precisão de cerca de 65%, mas a equipa esforça-se por atingir um limiar de 80% para o tornar clinicamente viável.
A equipa antevê uma solução farmacêutica que poderia não só prever, mas também atrasar ativamente a menopausa. Este desenvolvimento poderia ser transformador, especialmente para os 10% de mulheres que sofrem de menopausa precoce antes dos 45 anos e para os 1% que a enfrentam antes dos 40.
Para conseguir isto, explica a BBC Science Focus, a equipa de Stanković utiliza uma abordagem holística. Ao analisar uma única gota de sangue, podem avaliar uma série de fatores genéticos que influenciam a fertilidade e o momento da menopausa.
A sua investigação é reforçada pelo acesso aos vastos conjuntos de dados do UK Biobank, que inclui informações de mais de 200 mil mulheres. A partir destes dados, a equipa de Cambridge identificou 300 variantes genéticas que desempenham um papel na determinação da idade em que uma mulher entra na menopausa.
Esta descoberta permitiu-lhes começar a abordar doenças como a menopausa precoce e a síndrome dos ovários poliquísticos nas suas raízes genéticas, conduzindo potencialmente a terapias que poderiam ajustar ou corrigir processos reprodutivos disfuncionais.
Stanković adverte contra a possibilidade de considerar os atuais tratamentos de fertilidade, como a fertilização in vitro ou a congelação de óvulos, como curo milagrosa, salientando as suas taxas de sucesso frequentemente baixas.
Em vez disso, destaca o potencial de um novo tipo de medicamento para fertilidade – um que não apenas trata os sintomas, mas altera fundamentalmente a função ovariana para preservar e aumentar a fertilidade.
A equipa já demonstrou a viabilidade desta abordagem em modelos animais. Ao manipular os genes associados à menopausa em ratos de laboratório, a equipa atrasou eficazmente o seu declínio reprodutivo e melhorou os resultados da fertilidade. Estes resultados representam a primeira prova concreta de que é possível prolongar o tempo de vida reprodutiva através de intervenção genética.
No entanto, Stanković avisa que o caminho ainda é longo e repleto de desafios. Além disso, embora atrasar a menopausa possa reduzir o risco de doenças como a osteoporose e a diabetes associadas à menopausa precoce, pode também aumentar o risco de cancros reprodutivos associados a períodos de fertilidade prolongados.