Na passada segunda feira, 22 de abril, o mundo celebrou o Dia da Terra. Para assinalar a data, trazemos-lhe algumas curiosidades que desafiam o senso comum — e contrariam o que tínhamos a certeza de que sabíamos sobre o nosso querido planeta.
Poderíamos começar por lhe dizer que a Terra não é redonda, mas nem é preciso: todos nós (se não formos conspiracionistas da Terra Plana), já sabemos que o nosso planeta não é uma bola, é uma esfera achatada.
Bem, começámos mesmo por dizê-lo, portanto mais vale dar detalhes.
A Terra é, com efeito, um esferoide oblato: é ligeiramente achatada nos polos e mais larga no equador. Esta forma é devida à rotação do planeta, que causa um achatamento à volta do equador.
A diferença entre os raios polar e equatorial da Terra é de 21 km — o que parece pouco, comparado com os 6371 km do raio médio do planeta. Esta é no entanto uma diferença significativa, que faz da Terra um… ovo.
Mas o terceiro planeta a contar do Sol encerra mais algumas particularidades surpreendentes, que contrariam o que achávamos que sabíamos. Para começar… a montanha mais alta da Terra não é o Monte Evereste.
A montanha mais alta da Terra
Todos sabemos (hummm) que a montanha mais alta da Terra é o Monte Evereste. Está situado nos Himalaias e tem uma altitude de 8.848 m.
No entanto, o Evereste só é o monte mais alto do planeta se contarmos a altura da montanha a partir do nível do mar.
Se, em vez disso, considerarmos a distância total desde a base até ao topo, então o pico mais alto do planeta será o vulcão Mauna Kea, no Havai. A sua altura total é de 10.305 m, mas cerca de 6.000 m estão escondidos debaixo de água.
Além disso, há também uma terceira forma de determinar a altura de uma montanha: a distância do centro da Terra ao seu topo. Neste caso, é preciso ter em conta a forma da Terra, que, como vimos acima, é ligeiramente maior no equador.
Se tomarmos essa medida, o pico mais alto do nosso planeta será então o vulcão Chimborazo, no Equador. O seu pico está a 6.384,4 km de distância do centro da Terra, enquanto o Monte Evereste está apenas a 6.382,3 km.
O pico do Chimborazo é, também por estar no Ecuador, o ponto da Terra que está mais perto do espaço.
A substância mais comum na Terra
A Terra é constituída, mais ou menos, pelos mesmos elementos químicos que os restantes planetas terrestres do Sistema Solar.
Essencialmente, contém ferro – 32,1% do seu peso total. Segue-se o oxigénio (30,1%), o silício (15,1%), o magnésio (13,9%), o enxofre (2,9%), o níquel (1,8%), o cálcio (1,5%) e o alumínio (1,4%).
Tudo o resto é paisagem: os restantes elementos representam apenas 1,2% da massa do planeta.
A grande maioria do ferro e do níquel, bem como uma grande quantidade de enxofre, encontram-se na parte mais pesada do nosso planeta – o seu núcleo. Assim, a composição da crosta terrestre, ou seja, as rochas com as quais estamos em contacto direto, é visivelmente diferente.
O oxigénio é responsável pela maior parte da massa da crosta terrestre, representando cerca de 46,1%. Segue-se o silício (28,2%), o alumínio (8,23%), o ferro (5,63%), o cálcio (4,15%), o sódio (2,4%), o potássio e o magnésio – 2,3% cada.
O hidrogénio, o elemento mais abundante no Universo, representa apenas 1% de todas as substâncias presentes na Terra.
Apesar de ser a substância mais comum na crosta terrestre, o oxigénio representa apenas cerca de 21% da atmosfera terrestre. Quase 4/5 da nossa atmosfera, cerca de 78% é composta por azoto.
E ainda bem. Se assim não fosse, não existiríamos.
Com efeito, respirar ar com uma percentagem elevada de O2 durante períodos prolongados pode levar à toxicidade por oxigénio, causando danos nos pulmões e outros problemas de saúde, como perda de visão, tonturas, problemas respiratórios e, em casos extremos, convulsões.
Bem, talvez existíssemos, mas teríamos evoluído de outra forma e seríamos criaturas diferentes.
O oxigénio não cresce nas árvores
Por falar em oxigénio. Ao contrário da crença popular, a maior parte do O2 que existe na atmosfera não tem origem nas densas florestas tropicais do planeta.
Na realidade, o oxigénio nasce no mar. Os responsáveis pela produção do gás de que dependemos para viver são as algas fotossintetizantes microscópicas que compõem o chamado fitoplâncton.
Os cientistas estimam que entre 55% e 80% de todo o oxigénio do planeta é produzido por estes seres aquáticos.
Assim, apesar de as florestas serem frequentemente consideradas como os “pulmões da Terra“, é o fitoplâncton que sustenta grande parte da produção de oxigénio do planeta.
Vá lá então, plantinhas do mar, não se lembrem de começar agora a reproduzir-se desalmadamente e a encher a atmosfera de oxigénio, que não estamos preparados para o respirar.
Os maiores desertos não têm areia
Os maiores desertos da Terra variam consideravelmente de tipo, sendo alguns frios e outros quentes. Normalmente, pensamos nos desertos como extensões gigantescas de areia, como o Saara, mas a maior parte dos desertos do mundo não é coberta por areia.
A Antártida, por exemplo, é considerada um deserto porque, apesar de estar completamente coberta de gelo, tem muito pouca precipitação: menos de 200 mm por ano. Na realidade, o Deserto Antártico é o maior deserto do mundo, com uma área de cerca de 14 milhões de km2.
Também o segundo maior deserto do planeta é um deserto frio e árido, dominado por gelo e neve, com cerca de 13,9 km2: o Ártico, que abrange várias regiões no extremo norte do globo, incluindo partes do Canadá, da Gronelândia, Rússia, e Alasca.
Aquele que nos vem à imediatamente cabeça quando nos perguntam qual é o maior deserto do mundo (se é que alguém nos faz por algum motivo tal pergunta bizarra), o Deserto do Saara, é apenas o terceiro maior do mundo. Localizado no Norte da África, tem apenas cerca de 9,2 milhões de km2.
Seguem-se três desertos quentes: o Deserto Árabe, na Península Arábica (2,3 milhões de km2), o Deserto de Gobi, que se espalha entre a Mongólia e a China (1,3 milhões de km2), e o Deserto do Kalahari , quase todo no Botswana (900 mil km2).
Curiosamente, apesar das suas condições extremamente áridas, o Kalahari suporta uma variedade surpreendente de plantas e animais, que se adaptaram ao seu ambiente e lá fazem a sua vidinha. E na verdade, todos os desertos do planeta albergam diversos tipos de vida — entre animais, vegetais e micro-organismos.
Assim, os nossos desertos nem sequer são… desertos. A Terra é fascinante.
Armando, qual é a altura do Mauna Kea até o centro da Terra?
Caro leitor,
Obrigado pela sua pergunta.
O Mauna Kaua tem uma altura de 10.305 metros, mas apenas 4.207 m estão acima do nível médio da água do mar.
Se considerarmos que o raio médio da Terra é de 6.371 km (e ignorarmos os algarismos significativos) podemos calcular a distância do cume do Mauna Kaua até ao centro da Terra como sendo o raio médio da Terra mais a altura do monte acima do nível médio das águas do mar, ou seja: 6.371 km + 4,207 km = 6.375,207 km.
Se quisermos calcular a distância da base do Mauna Kea ao centro da Terra, teremos que subtrair ao raio médio da Terra a diferença entre a altura total do monte e a sua parte que está acima do nível médio das águas do mar, ou seja: 6.371 km – (10,305 km – 4,207 km) = 6.364,902 km
É no entanto de notar que o raio da Terra varia consoante a latitude, havendo uma diferença de 21 km entre o raio polar e equatorial — uma diferença que é o dobro da própria altura do monte, pelo que a verdadeira distância do Mauna Kea ao centro da Terra será fortemente dependente do raio da Terra na latitude a que se encontra o monte.
Usando ferramentas online para determinar o raio da Terra à latitude a que se encontra o Mauna Kea (aproximadamente 19.8° Norte), obtemos o valor de 6.375,697 km.
Assim, se tomarmos este cálculo como certo e usarmos este valor como raio da Terra nos cálculos acima, obtemos:
Distância do cume do Mauna Kea ao centro da Terra: 6.379,904 km
Distância da base do Mauna Kea ao centro da Terra: 6.369,599 km