Os primeiros registos de uma supernova já têm mais de 2 mil anos e, embora saibamos atualmente que estes eventos criam os blocos de construção da própria vida, ainda há perguntas sem resposta acerca das condições que provocam a explosão de uma estrela.
Investigadores do Instituto Weizmann de Ciência fizeram agora grandes progressos na compreensão destes fenómenos fascinantes.
Usando vários telescópios, incluindo o Observatório W. M. Keck em Maunakea, no Hawaii, conseguiram recolher dados de uma supernova chamada SN 2023ixf.
As suas descobertas foram publicadas a semana passada na revista Nature.
Até há pouco tempo, as supernovas eram consideradas raras, ocorrendo na Via Láctea, na melhor das hipóteses, uma vez por século e iluminando o céu noturno com a intensidade de 100 milhões de sóis; a última explosão observável, na nossa Galáxia, teve lugar há centenas de anos.
Desde então, os avanços tecnológicos têm ajudado a identificar supernovas em galáxias distantes, fornecendo mais dados do que era possível anteriormente.
No entanto, o mesmo problema persiste; uma vez que as explosões não podem ser previstas, os astrofísicos são como arqueólogos espaciais, geralmente chegando ao local após o evento e tentando reunir informações a partir dos remanescentes.
“É isso que torna esta supernova diferente“, explica em comunicado o estudante de doutoramento Erez Zimmerman, do grupo do professor Avishay Gal-Yam.
“Conseguimos – pela primeira vez – seguir de perto uma supernova enquanto a sua luz estava a emergir do material circunstelar em que a estrela em explosão estava embebida” — algo que é equivalente a chegar à cena do crime enquanto o crime ainda estava a acontecer.
Os cientistas admitem que tiveram sorte. A equipa de Gal-Yam candidatou-se a tempo de investigação com o Telescópio Espacial Hubble da NASA, na esperança de recolher dados ultravioleta (UV) sobre qualquer supernova que interagisse com o seu ambiente.
Em vez disso, tiveram a oportunidade de testemunhar em tempo real uma das supernovas mais próximas em décadas: a explosão de uma supergigante vermelha numa galáxia vizinha chamada Messier 101, também conhecida como a Galáxia do Cata-Vento.
Koichi Itagaki, um astrónomo amador do Japão, descobriu SN 2023ixf e comunicou-a numa sexta-feira à noite, a meio do fim-de-semana em Israel (a semana de trabalho em Israel é de domingo a quinta-feira) e mesmo antes do fim-de-semana no STScI (Space Telescope Science Institute) em Baltimore – o centro de operações do Telescópio Hubble.
Para complicar ainda mais as coisas, a observação teve lugar dois dias antes do casamento de Zimmerman. Mas a sua equipa rapidamente realizou observações de acompanhamento da supernova, fazendo direta na noite de sexta-feira e entregando mesmo a tempo as medições necessárias à NASA.
“É muito raro, como cientista, ter de agir tão rapidamente”, diz Gal-Yam. “A maioria dos projetos científicos não acontece a meio da noite, mas a oportunidade surgiu e não tivemos outra alternativa senão responder em conformidade.”
Não só conseguiram que o Hubble assumisse as coordenadas e o ângulo corretos para registar os dados necessários, como também, devido à relativa proximidade da explosão, se verificou que o Hubble já tinha observado este sector do Universo muitas vezes.
Recorrendo aos arquivos da NASA, a equipa de Gal-Yam e muitos outros grupos conseguiram obter dados anteriores à morte da estrela – quando ainda era apenas uma supergigante vermelha na fase final da sua vida – criando assim o retrato mais completo de sempre de uma supernova: uma composição dos seus últimos dias e da sua morte.
As observações de SN 2023ixf consistiram em dados UV e raios X dos satélites Hubble e Swift da NASA, bem como de muitos dos melhores telescópios de todo o mundo.
Isto incluiu espetros captados por três dos instrumentos do Observatório Keck – o KCWI (Keck Cosmic Web Imager), o DEIMOS (Deep Imaging and Multi-Object Spectrograph) e o LRIS (Low Resolution Imaging Spectrometer) – com cada instrumento a fornecer uma visão única da supernova e da sua evolução ao longo do tempo.
A compilação de dados espaciais e terrestres de alta qualidade permitiu aos investigadores mapear as duas camadas exteriores da estrela que explodiu e chegar a uma hipótese extraordinária.
“Os cálculos do material circunstelar emitido na explosão, bem como a densidade e a massa deste material antes e depois da supernova, criam uma discrepância, o que torna muito provável que a massa em falta tenha ido parar a um buraco negro que se formou na sequência da explosão – algo que é normalmente muito difícil de determinar”, diz o estudante de doutoramento Ido Irani, da equipa de Gal-Yam.
“As estrelas comportam-se de forma muito errática na sua idade mais avançada”, diz Gal-Yam. “Tornam-se instáveis e, normalmente, não podemos ter a certeza de quais os processos complexos que ocorrem no seu interior, porque iniciamos sempre o processo forense após o facto, quando muitos dos dados já se perderam”.
“Este estudo apresenta uma oportunidade única para compreender melhor os mecanismos que levam à conclusão da vida de uma estrela e à eventual formação de algo inteiramente novo”, disse Zimmerman.
Os cientistas poderão nunca vir a descobrir o que aconteceu à matéria que constituía a antiga supergigante vermelha da galáxia Messier 101.
No entanto, as últimas fases da supernova estão a decorrer e continuam a chegar novos dados, o que significa que este estudo, juntamente com os estudos de seguimento de SN 2023ixf, poderão fornecer mais informações sobre estes acontecimentos explosivos.
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