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Quem matou Marielle Franco? Deputado e chefe da polícia detidos por dar a ordem

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jeso.carneiro / Flickr

A vereadora brasileira Marielle Franco

Domingos e Chiquinho Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e deputado federal, bem como o ex-diretor da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa, são os grandes alvos da operação.

Já foi há seis anos que Marielle Franco, nascida e criada na favela da Maré e eleita pelo Partido Socialismo e Liberdade, vinha de um encontro com mulheres e ativistas negras quando foi morta por volta das 21h00.

Seguia acompanhada da assessora, numa viatura conduzida por Anderson Gomes. Imagens de câmaras de segurança mostraram que o carro foi perseguido por duas viaturas.

Poucos quilómetros depois, no centro do Rio, uma delas encostou no carro onde seguia a vereadora. Do banco de trás foram disparados 13 tiros, dos quais quatro atingiram Marielle, no pescoço e na cabeça, e três as costas de Anderson. Os dois faleceram imediatamente, a assessora escapou sem ferimentos graves.

A vereadora de 38 anos destacou-se pelo seu trabalho como defensora dos direitos humanos, e pelas suas denúncias contra a violência policial no Rio de Janeiro.

Este domingo, a Polícia Federal (PF) deteve três suspeitos de terem ordenado o homicídio da vereadora Marielle Franco (Psol) no Rio de Janeiro, em março de 2018. Foram detidos o deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ), o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE) Domingos Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-diretor da Polícia Civil do Rio.

Os mandados de detenção, emitidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foram no contexto da Operação Murder Inc, que investiga os homicídios de Marielle e do motorista Anderson Gomes, além da tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves, que se encontrava no automóvel no momento do crime.

A PF executou 12 mandados de busca e apreensão, todos na cidade do Rio. Segundo a Globo, está entre os alvos o delegado Giniton Lages, responsável pela Delegacia de Homicídios na época dos assassinatos e o primeiro a investigá-los. O ministro do STF Alexandre de Moraes teria ordenado o afastamento de Lages da sua atual função.

Outro alvo de busca e apreensão, de acordo com a TV Globo, seria Erica de Andrade Almeida Araújo, esposa de Rivaldo Barbosa, a quem foram também congelados os bens e suspensa a atividade comercial da sua empresa — segundo a PF, branqueava capitais para o marido.

Os detidos

Domingos e Chiquinho Brazão, irmãos, sempre negaram envolvimento no homicídio. O primeiro, conselheiro do TCE-RJ, foi mencionado no processo ainda no primeiro ano das investigações, 2018, e prestou depoimento três meses após o crime.

Domingos Brazão

Controverso, Brazão viu o seu nome ser incluído no Relatório Final da CPI das Milícias da Assembleia Legislativa do Rio, em 2007. Foi mencionado no testemunho do vereador Josinaldo Francisco da Cruz, conhecido como Nadinho de Rio das Pedras, como político que fizera campanha na comunidade.

Nadinho confirmou que a favela estava sob o domínio de uma milícia. “Qualquer criança de 10, 12 anos em Rio das Pedras, se perguntar, vai responder que existe milícia”, afirmou. Essa teria sido uma das primeiras quadrilhas de polícias a dominar criminosamente um território no Rio.

O atual conselheiro do Tribunal de Contas tem negado as acusações de suposto envolvimento em crimes e irregularidades. Atribui isso a disputas políticas e à luta por votos e bastiões eleitorais. Em entrevista ao Globo em janeiro, o conselheiro afirmou ser inocente e não ter qualquer ligação com o caso Marielle: “Não conheci essa gente, graças a Deus”.

Brazão já tinha admitido, contudo, ter matado um homem. Relatou o episódio devido a uma discussão com a deputada Cidinha Campos (PDT), no plenário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, em junho de 2014. A parlamentar acusou-o de homicídio.

“Sim, matei uma pessoa”, disse Brazão, que também reconheceu ter sido detido por causa do crime, mas alegou ter sido absolvido, segundo o jornal O Dia. “Mas isso foi há mais de 30 anos, quando tinha 22 anos. Foi um marginal que tinha ido à minha rua, à minha casa, no dia do meu aniversário, confrontar-me a mim e à minha família. A Justiça deu-me razão.”

A família Bolsonaro é mencionada nesta parte do processo. Mesmo sem qualquer envolvimento na morte,

O filho de Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, é mencionado por ter sido citado numa publicação da página de Marielle no Facebook feita em outubro de 2017, período em que o crime contra a vereadora teria sido supostamente encomendado. No post, Marielle compartilhou um vídeo de uma sessão da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro em que o então deputado estadual Marcelo Freixo criticava Flávio por ter votado a favor da indicação de Brazão para o TCE-RJ.

Chiquinho Brazão

Irmão de Domingos, Chiquinho Brazão é deputado federal pelo União Brasil e chegou a ser secretário especial de Ação Comunitária da câmara municipal do Rio de Janeiro.

Segundo a BBC, abandonou o cargo depois de o nome da sua família ter sido mencionado na delação de Elcio Queiroz, ex-PSP preso sob acusação de ter conduzido o carro utilizado no dia do homicídio.

Foi a referência a Chiquinho que terá levado o caso ao Supremo, tribunal onde os parlamentares federais gozam de foro privilegiado (processo e julgamento). Isso aconteceu depois de, por iniciativa do então ministro da Justiça, Flávio Dino, a Polícia Judiciária se ter juntado às investigações.

Rivaldo Barbosa

Rivaldo Barbosa é hoje coordenador de Comunicações e Operações Policiais da Polícia Civil do Rio e, na altura do atentado contra Marielle, desempenhava as funções de diretor.

Ao anunciarem a detenção de Barbosa e dos irmãos Brazão este domingo, as autoridades brasileiras enfatizaram que a motivação do crime é “complexa”, referindo, como exemplo, disputas por terras e interesses de milícias.

Rivaldo Barbosa, enquanto diretor da Polícia Civil, é suspeito de ter aceitado não investigar o crime e de ter participado no seu planeamento.

“A minha filha confiava nele”

Neste domingo, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, irmã de Marielle, agradeceu o empenho da PJ, do Governo, do Ministério Público e do juiz do STF Alexandre de Moraes.

“Estamos mais perto da justiça”, afirmou Anielle nas redes sociais. “Só Deus sabe o quanto ansiamos por este dia! Hoje é mais um grande passo para obtermos as respostas que tanto questionámos nos últimos anos: quem ordenou o assassinato da Mari e porquê?”

Em entrevista à emissora GloboNews, ao lado da mãe, Marinete Silva, Anielle disse ter ficado surpreendida com a detenção de Rivaldo Barbosa, relatando que a relação da família com o delegado era de confiança no início das investigações sobre os assassinatos.

A minha filha confiava nele e no seu trabalho. […] É uma tristeza enorme ver o seu nome envolvido nisto”, afirmou Marinete, mãe de Marielle. “É um domingo de grande dor, mas também de justiça”, acrescentou.

Marcelo Freixo, ex-deputado e amigo de Marielle, que foi sua assessora, também comentou as suspeitas sobre Rivaldo Barbosa. “Foi a Rivaldo que liguei quando soube do assassinato da Marielle e de Anderson e estava a caminho do local do crime”, disse o atual presidente da Embratur. “Agora, Rivaldo está detido por ter atuado no sentido de proteger os mandantes do crime, obstruindo o progresso das investigações. Isso diz muito sobre o Rio de Janeiro.”

Por sua vez, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, festejou a operação nas redes sociais. “O governo vai continuar a desempenhar o seu papel no combate a estas quadrilhas violentas que perpetram graves crimes contra as famílias brasileiras. A continuação das investigações certamente esclarecerá muitos outros crimes”, disse.

“Em breve teremos a solução”

Segundo a imprensa brasileira, os três detidos serão enviados para Brasília e transferidos para uma penitenciária federal.

As detenções ocorrem dias depois de o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, anunciar a homologação, no STF, da delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, detido desde 2019 acusado de ser o autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson.

“Esta colaboração premiada traz elementos muito importantes que nos levam a acreditar que em breve teremos a solução do homicídio da vereadora Marielle Franco”, afirmou Lewandowski ao anunciar a homologação. De acordo com informações veiculadas pela imprensa, Lessa indicou na sua delação quem deu a ordem do crime.

3 Comments

  1. A razão não se resigna, não desiste.
    O tempo não pára, não se esgota.
    O tempo é MESTRE.
    Ao tempo, nem os canalhas enganam, porque
    É TUDO UMA QUESTÃO DE TEMPO!

  2. No Brasil, ser honesto é Crime! Há o processo da baleia que foi incomodada pelo Bolsonaro, está a decorrer. Muito provavelmente será preso. Tem acusação de todo o tipo de crime, excepto, roubar.
    Vamos ver se a baleia era portadora de bens valiosos …

  3. Morrem 60 mil pessoas por ano no Brasil, é praticamente um país em guerra. Essa morte só criou tanta importância porque a esquerda queria de qualquer maneira associá-la a Bolsonaro e, de fato, fez acusações durante todo o tempo da investigação, aparentemente atrasando a conclusão da mesma. Agora que concluída e o culpado não é Bolsonaro, vai cair no esquecimento, ou ainda vão questionar a validade desta conclusão.

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