Uma árvore que “caminha” intriga cientistas há décadas

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yakovlev.alexey / Wikipedia

Exemplares de Socratea exorrhiza em Rio Puyo, Equador

Há décadas que os cientistas estão intrigados com a ideia de que uma árvore autóctone das florestas tropicais da América Central e do Sul consegue “caminhar”. Mas evidências recentes sugerem que a “árvore que anda” pode ser mais mito do que realidade.

A “palmeira andante”, cientificamente conhecida como Socratea exorrhiza, parece ser capaz de se mover até 20 metros por ano, usando as suas raízes semelhantes a estacas, em busca de luz solar.

A ideia de que esta árvore pode “caminhar” foi proposta pela primeira vez num artigo publicado em 1980 na Biotropica pelos antropólogos John H. Bodley e Foley C. Benson, que observaram estas palmeiras no leste do Peru.

A suposta capacidade de locomoção desta árvore  é atribuída à sua estrutura radicular única. A Socratea exorrhiza, que se eleva a vários metros acima do solo, cria novas raízes que se estendem em direção a áreas iluminadas pelo sol à medida que as antigas apodrecem.

No entanto, estudos mais recentes desafiaram essa narrativa. Num estudo publicado em 2005, também na Biotropica, o ecologista tropical Gerardo Avalos mostrou que a palmeira andante não migra do seu local original de germinação.

De acordo com os resultados do estudo, embora a árvore possa fazer crescer rapidamente novas raízes para ganhar estabilidade, ela não se move significativamente. Um outro estudo, publicado em 2007 na Revista de Biologia Tropical, apoiou estas conclusões.

Numa entrevista com a escritora italiana Elisa Paganelli, em 2009, Avalos esclareceu que as mudanças dinâmicas nas condições de exposição solar tornam irrealista pensar que a árvore pudesse mover-se de forma suficientemente rápida para aproveitar quaisquer aberturas de luz.

“É uma ideia impressionante e espantosa e gostaria de acreditar que a árvore pudesse andar, mas é só uma lenda“, diz Avalos.

Resta então responder a uma questão: se não é para se locomover, por que motivo a “palmeira andante” tem raízes tão longas?

Teorias anteriores sugeriam que estas raízes evoluíram para lidar com inundações, mas não há evidências substanciais que sustentem esta ideia.

Pesquisas mais recentes sugerem que essas raízes “em estacas” ajudam a árvore a aumentar a sua altura e estabilidade em florestas densas, permitindo que alcance aberturas de luz sem desenvolver um tronco mais grosso.

Qualquer que seja a razão para a Socratea exorrhiza criar as suas longas raízes, uma coisa parece certa: árvores que andam, para já, só na Terra Media do Senhor dos Anéis.

ZAP //

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1 Comment

  1. Fantástico!!!
    Um Fenómeno paralelo ao das pedras parideiras da serra da Freita.
    A natureza sempre a surpreender-nos…. e a maravilhar-nos.

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