Uma equipa de paleontólogo desvendou um mistério com décadas, ao identificar os fósseis mais antigos conhecidos da família do Incenso e da Mirra, que datam da época de uma das maiores erupções vulcânicas da Terra.
Estes frutos fossilizados, descobertos pela primeira vez nos anos 70 perto de uma aldeia indiana, estavam embutidos em cherte, uma rocha sedimentar formada por precipitação química, e foram inicialmente designados como Enigmocarpon devido à sua natureza enigmática.
Steven Manchester, curador de paleobotânica no Museu de História Natural da Florida, usou tecnologia de tomografia computorizada para criar reconstruções 3D destes fósseis.
A analise permitiu à equipa de investigadores determinar que os fósseis continham cinco sementes triangulares dispostas num pentagrama, uma característica da família Burseraceae, à qual pertence o incenso.
Devido ao pequeno tamanho destes fósseis, os métodos tradicionais de paleobotânica não tinham conseguido fornecer uma identificação conclusiva da espécie a que pertenciam.
No entanto, a abordagem de Manchester revelou que não eram apenas sementes, mas pirenos – cápsulas lenhosas de dispersão que protegem as sementes. Esta descoberta foi crucial, pois apenas alguns grupos de plantas produzem pirenos, restringindo a possível identificação.
“Quando mostrei as imagens 3D ao meu colega Walter Judd, curador de botânica do Museu, ele disse logo isso não são sementes, isso são pirenos“, conta Steven Manchester em nota publicada no site do Museu.
Os fósseis tinham sido encontrados em regiões afetadas por erupções vulcânicas maciças enquanto a Índia se deslocava da África em direção à Europa e Ásia.
Estas erupções, que ocorreram ao longo de quase um milhão de anos, dizimaram periodicamente a vegetação, mas também criaram ambientes como lagoas e lagos, onde plantas, incluindo sementes e madeira, foram preservadas sob sedimentos.
Estas descobertas têm implicações significativas para a compreensão das origens da família do Incenso. Anteriormente, a maioria dos fósseis desta família foi encontrada em rochas formadas após o impacto do asteroide que encerrou o período Cretáceo.
No entanto, os fósseis agora identificados antecedem esse evento, tornando-os os fósseis mais antigos conhecidos da família Burseraceae.
Enquanto espécies antigas de Burseraceae eram comuns em leitos de fósseis no hemisfério norte, a sua identificação na Índia sugere que o hemisfério sul pode ter sido o seu local de origem.
A descoberta, publicada no início de dezembro no International Journal of Plant Sciences, abre novas vias de pesquisa sobre a história evolutiva e as origens geográficas desta importante família de plantas, que hoje consiste em mais de 700 espécies — maioritariamente encontradas a sul do equador.