Presa injustamente 20 anos, a “mulher mais odiada da Austrália” vai ter uma indemnização recorde

Kathleen Folbigg esteve presa 20 anos pela morte de quatro filhos, mas uma análise genética indicou que as mortes teriam sido naturais. A mulher deve agora receber a maior indemnização de sempre por uma acusação errada na Austrália.

Kathleen Folbigg, outrora apelidada de “a mulher mais odiada da Austrália” pelo alegado assassinato de três dos seus filhos e pelo homicídio por negligência de outro, viu as suas condenações anuladas por um tribunal de recurso.

Esta decisão histórica surge no seguimento de um inquérito que considerou novas provas científicas que colocavam em dúvida a sua culpa e marcaram o fim de uma batalha de duas décadas pela justiça.

Folbigg, que foi libertada da prisão em junho após cumprir 20 anos, enfrentou um intenso escrutínio e desprezo público após a sua condenação em 2003. O veredito de culpa original baseou-se em grande parte nos seus diários, interpretados como admissões de culpa, em vez de em provas médicas concretas.

Folbigg alegou que estas entradas eram reflexões privadas de uma mãe em luto, e não confissões de um ato criminoso. “Eles escolheram seletivamente palavras e frases dos meus diários. Esses livros continham os meus sentimentos particulares, que escrevi para mim mesma. Ninguém espera que esse tipo de coisa seja lido por estranhos. Eles tiraram as minhas palavras do contexto”, defende

O caso da acusação também se apoiou na agora desacreditada Lei de Meadow, que presumia múltiplas mortes infantis numa família como assassinatos até prova em contrário, explica o The Guardian.

A jornada para a libertação de Folbigg foi liderada por uma equipa de apoiantes, incluindo a sua advogada Rhanee Rego, que trabalhou pro bono desde 2017, e a amiga de infância Tracy Chapman, que tinha uma crença inabalável na sua inocência.

Emma Cunliffe, especialista em justiça da Universidade da Colúmbia Britânica, também escreveu um livro em 2011 sobre o caso de Folbigg onde aponta a misoginia na acusação — que se baseou em comportamentos normais, como trabalhar part-time ou deixar os filhos em creches para ir ao ginásio — para sustentar a tese de que Folbigg era suspeita.

O ponto de viragem chave no caso veio com a descoberta de uma mutação genética rara em Folbigg e nas suas duas filhas, sugerindo causas naturais para as mortes das crianças. Esta evidência, juntamente com novas pesquisas sobre as variantes genéticas nos seus filhos, formou a base do inquérito recente e da sua subsequente libertação. Antecipa-se agora que Folbigg receba a maior indemnização por uma condenação errada na história da Austrália.

“Durante quase um quarto de século, enfrentei descrença e hostilidade. Sofri abusos em todas as suas formas. Eu esperava e rezei para que um dia pudesse estar aqui com o meu nome limpo. Espero que ninguém mais tenha que sofrer o que eu sofri”, afirmou Folbigg quando foi ilibada.

A ausência de um órgão independente na Austrália para rever condenações erradas, ao contrário do que acontece no Reino Unido, EUA, Nova Zelândia e Canadá, também levantou dúvidas sobre o sistema judicial no país, com apelos à sua criação.

ZAP //

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