“Químicos eternos” podem ser encontrados em produtos do dia-a-dia como roupas, ceras, utensílios de cozinha, embalagens para alimentos, cosméticos ou espumas para apagar incêndios, entre muitos outros.
Uma organização europeia de investidores alertou esta terça-feira para o perigo dos “químicos eternos” PFAS, usados para tornar produtos antiaderentes ou impermeáveis, que dizem poder ser “um novo amianto”, expondo fabricantes e empresas a riscos profundos.
A produção e a utilização de PFAS devem ser progressivamente eliminadas, avisam os investidores da ChemSec numa carta enviada aos diretores executivos das 50 maiores empresas químicas cotadas em bolsa a nível mundial, segundo um documento a que a agência Lusa teve acesso.
Os PFAS (produtos per e polifluoroalquil) são substâncias sintéticas “eternas” (difíceis de destruir) que são adicionadas a outros produtos para os tornar por exemplo antiaderentes ou impermeáveis.
Existem milhares de PFAS diferentes e podem ser encontrados em produtos do dia-a-dia como roupas, ceras, utensílios de cozinha, embalagens para alimentos, cosméticos ou espumas para apagar incêndios, entre muitos outros, incluindo dispositivos médicos.
Estudos científicos têm alertado para os riscos dos PFAS para a saúde, afetando o sistema imunitário e hormonal ou aumentando a probabilidade de cancro.
Esta terça-feira, na carta, os investidores pedem às empresas para que sigam o exemplo da multinacional 3M, que decidiu abandonar os PFAS após enfrentar milhares de ações devido a suposta contaminação por aquele produto — e alertam que os modelos indicam que nos Estados Unidos as indemnizações que as empresas terão de pagar podem atingir valores até 66 mil milhões de dólares.
O aviso aos diretores foi feito pela “Investor Initiative on Hazardous Chemicals” (IIHC), que representa mais de 10 mil milhões de dólares em ativos sob gestão ou aconselhamento, envolvendo mais de 50 investidores e representantes.
O IIHC é coordenado pela ChemSec, Secretariado Internacional de Produtos Químicos, uma organização independente que defende a substituição de produtos químicos tóxicos por alternativas mais seguras, tendo nomeadamente o apoio do governo sueco.
“Os fabricantes e utilizadores de produtos químicos PFAS estão expostos a riscos profundos de responsabilidade e de seguro, que fazem lembrar os riscos historicamente associados ao amianto, e que podem prejudicar materialmente o valor a longo prazo das empresas envolvidas no seu fabrico e venda”, diz-se na carta, segundo partes da missiva divulgadas pela ChemSec.
Os autores da carta lembram que também o amianto foi considerado durante décadas um “mineral mágico”, apesar das preocupações iniciais com a saúde, e que as ações judiciais acabaram por levar a falências, que ainda hoje continuam.
Também os perigos dos PFAS foram já reconhecidos e, no entanto, “a produção atual é a mais elevada de sempre”, alertam no documento a que a Lusa teve acesso.
Nos Estados Unidos, empresas enfrentam uma “avalanche de processos judiciais”, em setores que vão do automóvel ao alimentar, do têxtil ao cosmético. A primeira falência deu-se este ano. Estados Unidos e União Europeia preparam proibições para os PFAS.
“A má gestão de produtos químicos perigosos é um dos maiores e mais imediatos riscos ambientais para os investidores no que respeita ao seu potencial de impacto nos resultados das empresas”, diz Victoria Lidén, do IIHC, que alerta para o impacto negativo na saúde humana e nos ecossistemas, mas também no valor das empresas, um impacto que a curto prazo pode ser maior do que o das alterações climáticas.
A ChemSec publica uma análise do progresso da industria química e o último relatório, deste ano, indica que as 50 maiores empresas cotadas em bolsa a nível mundial estão a fazer poucos progressos na sustentabilidade e transparência.
Responsável da ChemSec, Sonja Haider, cujo sangue foi analisado e se verificou ter PFAS acima do limiar de segurança, diz citada no documento: “Os PFAS são o novo amianto. Isso é claro para nós e cada vez mais para os investidores. O paralelismo é evidente: os cientistas denunciam, as empresas continuam a produzir durante décadas até que, por fim, a lei as apanha e é o fim do jogo”.
A dimensão total do problema, avisa, ainda nem é conhecida. E haver empresas que ainda defendem os PFAS é “tão cínico como míope”.
Cientistas têm alertado para o facto de a poluição química ter ultrapassado o limite de segurança para a humanidade e ameaçar os processos biológicos e físicos que estão na base de toda a vida na Terra.
// Lusa