Cientistas apanharam plantas a comunicar

8

ZAP // NightCafe Studio

Parece uma cena de O Senhor dos Anéis. Um inimigo ataca uma planta, a planta defende-se — e lança um alerta. As outras plantas preparam as suas defesas, e a floresta está salva.

Um novo estudo descobriu que as plantas podem comunicar entre si para trocar avisos acerca de ameaças ambientais, como ataques de insetos ou secas.

O estudo, publicado este mês na Nature Communications, mostra como plantas atacadas emitem compostos químicos específicos que podem ser absorvidos por plantas saudáveis para ativar defesas internas.

“Esta é a primeira vez que se consegue detetar comunicação planta-a-planta”, diz ao The Washington Post o biólogo molecular Masatsugu Toyota, investigador da Universidade de Saitama, no Japão, e autor principal do estudo.

O conceito de “árvores que falam” tem intrigado cientistas desde a década de 1980. Experiências iniciais descobriram que árvores atacadas por lagartas começavam a produzir químicos para dissuadir os insetos.

Surpreendentemente, árvores saudáveis da mesma espécie, mesmo aquelas localizadas a vários metros de distância sem ligações entre as suas raízes, também começaram a emitir os mesmos químicos defensivos.

Em 2019, um estudo publicado na Current Biology tinha concluído que plantas sob ameaça usam “linguagem universal” para alertar as outras. Em 2018, um outro estudo tinha mostrado que as células das plantas comunicam a partir de proteínas que existem nas células cerebrais dos animais.

Ao longo das últimas quatro décadas, este fenómeno foi observado em mais de 30 espécies de plantas, mas os mecanismos permaneciam desconhecidos até agora.

O novo estudo focou-se no papel dos voláteis de folha verde (VFV), compostos antimicrobianos emitidos por plantas e folhas quando estão lesionadas.

Toyota et al / Science

Depois de uma lagarta devorar uma folha, uma planta despoleta um aviso de cálcio que lança um aviso à distância de que se encontra lesionada

Toyota e a sua equipa utilizaram plantas geneticamente modificadas para rastrear mudanças de iões de cálcio nas células das plantas, revelando como estes compostos são absorvidos e ativam defesas nos tecidos internos das plantas.

Segundo o ecologista André Kessler, que não esteve envolvido no estudo, estes compostos têm de entrar na planta através dos seus estomas, ou poros foliares — o que desencadeia a sinalização de cálcio dentro das células, que atua como um interruptor para iniciar respostas defensivas.

Em alguns casos, isso pode significar a produção de proteínas que dissuadem insetos de consumir as plantas.

Compreender esta via de comunicação pode ter implicações significativas para a agricultura e a ciência ambiental. Por exemplo, os agricultores poderão ser capazes de usar menos pesticidas, ao potenciar as defesas naturais das plantas.

Isto também pode ajudar as plantas a tornarem-se mais resilientes a condições climáticas como as secas. Kessler realça que a exposição precoce a ameaças pode alterar o metabolismo de uma planta, tornando-a melhor equipada para enfrentar desafios semelhantes no futuro.

Segundo o ecologista, se uma planta consegue montar uma resposta adaptativa a ameaças específicas, ela qualifica-se como uma forma de inteligência.

A descoberta abre novas vias para a investigação, desafiando a nossa compreensão tradicional da inteligência e comunicação no mundo natural.

No entanto, muitas questões permanecem por responder. Os investigadores ainda não sabem por que motivo apenas dois voláteis de folha verde específicos poderiam desencadear o processo de sinalização de cálcio.

O próximo passo envolve agora a identificação de vários recetores nas plantas que possam ser específicos para estes compostos químicos.

Armando Batista, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

8 Comments

  1. Vamos comer comentadores com inteligências equivalentes à das plantas e que ainda não perceberam que os animais que produzimos comem muito mais plantas do que se nós comermos as plantas directamente, logo se estás preocupado com as plantas então deves ser vegan. Para além disso, consciência é diferente de inteligência. O teu telemóvel é inteligente mas não sofre quando o deixas cair pela 7 vezes pelas escadas abaixo 😉

  2. Vegano “extremista”… está tudo dito. O extremismo é claramente contrário a todas as formas de inteligência e sensatez. Se me faço entender…

  3. Muito interessante como a Fátima preferiu focar-se no nome obviamente sarcástico em vez de nos argumentos apresentados. A única razão lógica para isso é o facto de não ter contra-argumentos e então preferiu responder com um ad-hominem 🙂 E ainda fala de inteligência e sensatez! A ironia…

  4. Um vegano não devia ser tão agressivo! Se calhar é daqueles que só o é de dia e à noite às escondidas vai comer carne. Com tamanha agressividade.! Atira para todos os lados…

  5. Fiquei intrigado!
    Um planta emite um alerta químico para as outras se defenderem.
    Como as outras plantas se defendem?

    Um homem começa a cortar uma árvore.
    Esta árvore emite um alerta químico às outras.
    O que as outras fazem?

    Julgo que os “alertas” químicos existem, mas não são para ser defenderem, mas com outros fins.

  6. Bom dia. Não sou propriamente entendida no assunto, mas penso que, tal como em verdadeiras batalhas humanas, a defesa não significa obrigatoriamente vencer a batalha. Como tal, se alguém corta uma planta, lógico que ela não consegue escapar. mas consegue, por exemplo, criar estratagemas de propagação mais rápida para que a sua espécies se mantenha, não o indivíduo; ou pode, por exemplo, modificar alguma parte da sua constituição, por forma a torná-la menos “apetecível” ao agressor.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.