Houve uma lacuna entre o que “era” e o que “parecia ser”, na URSS, que ajudou o Estado soviético a ser tão zeloso; mas que também contribuiu para a queda de um aparelho estatal muito menos capaz do que aquele que fingiam mobilizar.
Um novo livro chamado “Secret Leviathan: Secrecy and State Capacity under Soviet Communism” (em português, “Sigilo e Capacidade do Estado sob o Comunismo Soviético”), denuncia alguns dos segredos mais bem guardados da URSS.
O autor da obra, o professor economia Mark Harrison da Universidade de Warwick (Inglaterra), analisou o sofisticado regime que fez da União Soviética um dos Estados mais secretos que já existiram.
Como explica o ScienceBlog, o livro descreve as complexas camadas de segredos da URSS; o que os segredos escondiam; o que o Estado ganhava e perdia à custa deles; e o que se pode concluir sobre a forma como os segredos são hoje usados na Rússia.
“Os arquivos da União Soviética contêm muitos milhões de documentos secretos. O seu volume é muito maior do que a informação governamental que foi divulgada ao público. Mas o maior segredo era a enorme lacuna entre a aparência e a realidade da ditadura do partido comunista”, denuncia o autor.
O que mais saltou à vista de Mark Harisson foi a desorganização e leviandade de um Estado que mostrava aquilo que não era; mas que tinha, contudo, o engenho de fazer na perfeição a distinção do que “era” e do que “parecia ser”.
“Aparentemente, o Estado soviético era decisivo, omnisciente e todo-poderoso. Mas, por trás da cortina, era governado por procrastinação, indecisão, pensamento de grupo, desconfiança, medo e desinformação. Este fosso foi escondido pelo segredo”, acrescenta.
Ainda assim, Mark Harrison reconhece que os comunistas foram os construtores de um dos Estados mais diligentes do século XX: “Os líderes políticos valorizavam o segredo porque isso lhes comprava segurança no cargo. Só que o segredo era extremamente dispendioso…”.
As mentiras acabaram por custar aos comunistas um aparelho estatal muito menos capaz do que aquele que fingiam mobilizar.
Atualmente, a era digital adapta-se mais à desinformação do que à censura e secretismo. No entanto, de acordo com o especialista, o regime de Vladimir Putin continua a saber promover a troca entre o segredo e a capacidade de operar.