Morreram 120 golfinhos na Amazónia. O calor é o principal suspeito

Michelle Bender/ Wikimedia Commons

Golfinho de rio da Amazónia

É o pior evento do género das últimas três décadas e terá sido provocado por uma toxina gerada pelas altas temperaturas que os enfraqueceu. Golfinhos terão morrido por hipertermia.

Uma equipa de biólogos está a investigar se uma biotoxina gerada pelas altas temperaturas na região amazónica do Brasil causou a morte de 120 golfinhos de duas espécies ameaçadas de extinção nas últimas semanas. A morte dos 120 golfinhos é o pior evento do género em pelo menos três décadas.

A oceanógrafa Miriam Marmontel, líder dos investigadores de mamíferos aquáticos do Instituto Mamirauá de Desenvolvimento Sustentável, disse à agência espanhola Efe que a onda de calor que assola a Amazónia elevou a temperatura da água do Lago de Tefé oito graus acima da máxima normal e que isso teve um papel decisivo na morte dos golfinhos, pois pode ter causado hipertermia.

No entanto, a especialista disse que essas altas temperaturas poderiam ter, por sua vez, “exacerbado” alguma substância tóxica na água que enfraqueceu ainda mais os golfinhos e os impediu de nadar até ao rio que alimenta o lago para se salvarem.

“Esta é outra linha de investigação e explicaria porque é que os golfinhos não abandonaram o lago. A combinação de altas temperaturas e biotoxinas pode ter causado a morte“, considerou.

A equipa de biólogos coordenada por Marmontel está a trabalhar para retirar as últimas carcaças de golfinhos do lago, fazer necrópsias e enviar as amostras para laboratórios do sul do país, pelo que esperam receber os primeiros resultados até ao final da semana.

A especialista, que não se lembra de um evento dessa magnitude nos seus 30 anos de carreira na região, estimou que os animais mortos, das espécies boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e tucuxi (Sotalia fluviatilis), representam pouco menos de 10% da população do lago.

O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, vinculado ao Governo Federal, teme que episódios como este se repitam durante o que resta da estação seca da Amazónia, que costuma chegar ao máximo em meados de outubro, mas que as mudanças climáticas ameaçam prolongar.

Para tentar evitar mais mortes, a equipa de biólogos do centro está a considerar a possibilidade de recolocar os golfinhos no rio Solimões, como é conhecido no Brasil este troço do rio Amazonas, mas essa solução seria complicada caso seja detetada a presença de uma substância tóxica. “Se os golfinhos forem expostos a uma doença infecciosa gerada pelo calor, o problema seria muito mais grave”, disse Marmontel.

O boto-cor-de-rosa é conhecido pela sua cor rosa peculiar e tamanho considerável, podendo medir até 2,5 metros e pesar 160 kg. Os tucuxis são mais pequenos e de cor cinza. Têm cérebros altamente desenvolvidos e são conhecidos pelas suas habilidades de ecolocalização, que lhes permitem navegar e caçar em águas turvas.

Ambos desempenham um papel vital no ecossistema amazónico, sendo predadores de uma variedade de peixes e invertebrados aquáticos. No entanto, enfrentam ameaças crescentes, incluindo a destruição do habitat devido ao abate de árvores e à poluição da água, bem como a captura acidental em redes de pesca.

ZAP // Lusa

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