Sendo um dos animais biologicamente mais simples, poderíamos pensar que as medusas não seriam capazes de aprender. Afinal, mesmo sem cérebro, conseguem.
Um estudo publicado esta sexta-feira na revista Current Biology revela que as medusas das Caraíbas são capazes de aprender e adaptar o seu comportamento, apesar de não terem um cérebro centralizado.
As descobertas desafiam o entendimento convencional sobre as capacidades de aprendizagem em animais com sistemas nervosos mais simples.
O estudo, liderado por uma equipa de neurobiólogos da Universidade de Copenhaga e da Universidade de Kiel, observou medusas das Caraíbas treinadas num tanque desenhado para simular o seu habitat natural.
Inicialmente, as medusas chocavam frequentemente com obstáculos artificiais que se assemelhavam a raízes de mangue.
No entanto, após cerca de 7 minutos de aprendizagem, as medusas adaptaram o seu comportamento para evitar estes obstáculos, aumentando a sua distância média aos mesmos em cerca de 50%.
Além disso, o número de mudanças de direção bem-sucedidas para evitar colisões quadruplicou, e o contacto com as paredes do tanque reduziu-se para metade.
“Isto mostra que as medusas podem realmente aprender com os seus erros e modificar o seu comportamento”, explica à New Scientist o neurobiólogo Anders Garm, investigador da Universidade de Copenhaga e coautor do estudo.
Os resultados sugerem que as medusas são capazes de realizar um processo chamado aprendizagem associativa, onde os organismos formam ligações entre estímulos sensoriais e comportamentos.
As implicações do estudo vão além do nosso entendimento sobre medusas. “Isto é uma grande novidade para a neurociência fundamental“, acrescentou Garm. “Sugere que a aprendizagem avançada pode ter sido uma vantagem evolutiva dos sistemas nervosos desde o seu início.”
Os investigadores planeiam agora examinar as interações celulares no sistema nervoso das medusas para melhor entender o processo de formação de memória, e esperam estudar em detalhe o sensor mecânico no corpo das medusas — para obter uma visão mais abrangente das suas capacidades de aprendizagem.
“Mesmo o sistema nervoso mais simples parece capaz de aprendizagem avançada, sugerindo que esta capacidade pode ser um mecanismo celular fundamental presente desde o início da evolução do sistema nervoso”, conclui Garm.
Não parece grande novidade. Consta que os políticos e afins são criaturas sem cérebro e no entanto sempre aprendem a cuidar bem de seus umbigos.