A resposta jaz em Nuna, o primeiro supercontinente da Terra. Três fatores são fundamentais para a subida dos diamantes cor-de-rosa à superfície, mas ainda há um enigma por desvendar.
Raríssimos, são os mais cobiçados e os mais caros do mercado, com um preço que atinge valores entre os 30 e os 100 mil dólares por quilate — cerca de 20 vezes mais do que o diamante branco. Mas se calhar, os diamantes cor-de-rosa não são assim tão raros: nós é que não sabemos trazê-los à superfície.
Investigadores da Universidade Curtin, na Austrália, são os autores de uma descoberta revolucionária — publicada na passada terça-feira na revista Nature — que explica a rara formação e trajeto dos diamantes cor-de-rosa até à superfície da Terra.
Ao contrário dos diamantes comuns, que necessitam de carbono, calor, pressão e tempo, os diamantes cor-de-rosa exigem fatores adicionais para a sua formação única, alguns dos quais foram desde sempre um mistério… até agora.
A receita da sua ascensão à superfície
Estes diamantes não requerem apenas as imensas forças resultantes da colisão de placas tectónicas, mas também um “estiramento” continental, concluiu a equipa do geólogo Hugo Olierook.
À medida que os continentes se separam, ocorre um puxão semelhante a um caramelo mascável, como denota o Science Alert, arrastando os diamantes cor-de-rosa das profundezas do manto até à superfície, onde podem ser descobertos.
Este mecanismo pode ajudar a localizar outros depósitos destas pedras preciosas raras, especialmente após o encerramento da mina Argyle, na Austrália Ocidental, que já forneceu 90% dos diamantes rosa do mundo.
A presença de carbono profundo, a colisão continental e estiramento são mesmo os ingredientes essenciais para encontrar uma nova e recheada fonte de diamantes cor-de-rosa, algo semelhante ao “próximo Argyle”.
Para entender a formação dessas gemas únicas, a equipa recorreu a algumas técnicas geocronológicas para identificar a idade dos depósitos rochosos onde os diamantes rosa são encontrados.
Geralmente, os diamantes são maioritariamente formados em tubos de quimberlito, lembra o Science News, mas os diamantes de Argyle vêm de tubos de lamproíto, que se formam a profundidades mais rasas e normalmente carecem das ricas cargas de diamantes vistas em quimberlito. Mas Argyle é uma exceção: a equipa descobriu que o lamproíto da mina tem cerca de 1,3 mil milhões de anos — a mina é 100 milhões de anos mais velha do que se acreditava anteriormente.
A idade sugere que a mina Argyle pode ter-se formado como resultado da desagregação do primeiro supercontinente Nuna. O estiramento desta massa crustal poderá ser fundamental para a subida dos diamantes rosa.
Olierook refere que Argyle está localizada numa “cicatriz” causada pela colisão de continentes antigos, abrindo espaço para o diamante “escapar” do seu útero e apanhar a boleia do magma projetado através de lacunas na crosta terrestre.
Fica um enigma por desvendar
Embora sejam quimicamente puros, a sua coloração permanece um enigma. Ao contrário dos diamantes amarelos ou azuis, que ganham a sua tonalidade de outros elementos, os diamantes rosa são tão quimicamente puros quanto os seus homólogos brancos.
Enquanto todos os diamantes são encontrados em regiões vulcânicas, Olierook sugere que muitos vulcões portadores de diamantes rosa ainda podem estar por descobrir, especialmente em áreas onde os continentes antigos se encontraram. Estas bordas são muitas vezes ocultadas por areia e solo, complicando a busca pelas gemas raras.