Podemos confiar nas primeiras memórias de infância?

Sujeitas a modificações, sugestionabilidade e expectativas sociais, nem todas as nossas primeiras memórias são totalmente infalíveis. O que é que as altera (e como)?

As memórias de infância, nostálgicas e sentimentais, formam muitas vezes uma parte central da nossa identidade. No entanto, levantam duas questões curiosas: quão precisas são e qual o grau de confiança que podemos ou devemos depositar nas nossas primeiras recordações?

Embora as nossas memórias possam frequentemente ser bastante precisas — especialmente ao recordar eventos traumáticos ou dolorosos — não são infalíveis.

As memórias são, independentemente da idade, propensas a modificações e sugestionabilidade. Indivíduos mais jovens, contudo, tendem a ser mais impressionáveis comparativamente aos adultos.

Um estudo de 2020 publicado na revista Psychological Science concluiu que, à medida que o tempo passa, as memórias das pessoas sobre certos eventos diminuem, tornando-se menos detalhadas. Contudo, quando um evento é recordado, a sua precisão situava-se entre 93% a 95%, independentemente do tempo que tinha passado.

Aprofundando a reflexão sobre as nossas primeiras memórias, a psicóloga infantil e professora Carole Peterson da Universidade de Newfoundland descobriu, segundo o Live Science, que eventos carregados de emoção têm mais probabilidade de ficarem “gravados” na nossa memória, num estudo de 2011 publicado na Child Development.

Além disso, memórias claras e organizadas têm maiores probabilidades de serem recordadas ao longo do tempo. Corroborando esta descoberta, uma pesquisa de 2015 mostrou que adolescentes podiam recordar com precisão detalhes de lesões da sua infância precoce que haviam sido emocionalmente intensas.

No entanto, o domínio da memória não está isento de falácias. Alguns indivíduos, especialmente crianças, podem desenvolver falsas memórias e recordar eventos que nunca ocorreram.

Expectativas sociais podem ser as grandes culpadas por essa “mentira” que a nossa menter nos conta quando crianças. Um estudo de 2011 aprofunda ainda mais nas razões por detrás das falsas memórias, identificando emoções e sugestionabilidade como os principais culpados.

Relativamente a memórias mais mundanas da infância, Peterson conduziu um estudo em 2017 em que verificou que, enquanto as crianças entre os seis e os nove anos permaneciam relativamente consistentes com as suas memórias iniciais ao longo do tempo, os mais jovens mostravam discrepâncias nas suas recordações — resultados que ilustram os desafios no estabelecimento da autenticidade das memórias, especialmente da infância precoce.

Enquanto as memórias, especialmente as emocionais, podem ser confiáveis, permanecem maleáveis e suscetíveis a influências externas. A verdadeira precisão de uma memória pode sempre permanecer incerta, a menos que existam provas tangíveis, como gravações de vídeo.

ZAP //

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