Os clínicos acreditam que não há recursos humanos e técnicos adequados nos centros de saúde para a realização de interrupções voluntárias da gravidez.
Os médicos de família estão descontentes com a proposta do Ministro da Saúde, Manuel Pizarro para que os centros de saúde possam passar a realizar sobre Interrupções Voluntárias da Gravidez (IVG). Os profissionais apontam que não há condições adequadas, tanto a nível de recursos humanos como técnicos, para que os abortos sejam feitos fora dos hospitais.
Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), questiona a viabilidade da proposta do ministro. “Dada a falta de recursos humanos, técnicos e materiais, não compreendo como é possível avançar com esta ideia sem entraves”, refere ao JN.
Um dos grandes desafios apontados por Jacinto é a insuficiência de profissionais nos centros de saúde, com muitos incapazes de garantir até mesmo os serviços básicos, como o planeamento familiar.
Além disso, o dirigente lembra que os médicos de família não são obstretas, não tendo assim a formação específica para saberem qual é o método mais adequado dependendo de cada caso, já que o aborto tanto pode ser com um medicamento como cirúrgico.
A necessidade de ecografias é outro entrave, já que “não existe muitas vezes resposta atempada no sistema convencionado, quanto mais tê-la disponível em nos centros de saúde”.
Jacinto também levanta dúvidas sobre os dados do recente relatório da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), dizendo ser “impossível que apenas cinco dos 55 agrupamentos de centros de saúde façam consulta prévia”, já que o “primeiro acompanhamento no centro de saúde não é registado como tal”.
Já sobre a questão dos médicos objetores de consciência, o presidente da APMGF desvaloriza o assunto, alegando que não é a razão principal para a não realização da IVG dentro dos prazos estipulados. “Estamos a focar numa questão particular quando o problema é muito maior”, afirma.