A equipa analisou turbiditos (depósitos sedimentares) fossilizados das planícies abissais (extensa área de fundos marinhos) do antigo oceano de Tétis (atual mar Mediterrâneo), do período do Cretáceo Inferior.
Os resultados obtidos permitem antecipar o aparecimento de peixes no mar profundo em mais de 80 milhões de anos.
O estudo, que contou com a colaboração de Carlos Neto de Carvalho e Mário Cachão, investigadores do Instituto Dom Luiz da Universidade de Lisboa, foi publicado esta semana na revista científica PNAS.
O geólogo Carlos Neto de Carvalho, coautor do estudo e coordenador científico do Geopark Naturtejo, liderou também o estudo que recentemente encontrou em Odemira centenas de abelhas mumificadas dos tempos dos faraós, e fez parte da equipa que no início do mês encontrou os fósseis mais antigos de Portugal.
O novo estudo teve contributos de investigadores italianos e espanhóis, incluindo Andrea Baucon, autor principal do artigo que o apresenta e também investigador do Geopark Naturtejo.
De acordo com o estudo, os vestígios encontrados na cordilheira dos Apeninos, a noroeste, perto das cidades de Piacenza, Modena e Livorno, sugerem a atividade de pelo menos três espécies de peixes que se alimentavam de animais invertebrados que se fixavam nos sedimentos marinhos.
As observações são “consistentes com a transição dos vertebrados do Cretáceo Inferior para o mar profundo, desencadeada pela disponibilidade de novas fontes de alimento”, dizem os investigadores.
Os vestígios, os mais antigos de vertebrados de águas profundas, incluem marcas de trilhos sinuosos formados pela cauda de um peixe enquanto nadava ou marcas de escavações em forma de tigela feitas pelos peixes enquanto se alimentavam, descreve um comunicado da Naturtejo.
A nota acrescenta que essas marcas são semelhantes “às estruturas produzidas pelos peixes modernos que se alimentam arranhando o fundo do mar ou expondo por sucção as presas que vivem no fundo”.
Segundo a equipa científica, trata-se de comportamentos que lembram os Neoteleostei, grupo de peixes que inclui os modernos peixes-lagarto.
No então oceano de Tétis, a milhares de metros de profundidade, os peixes tiveram de enfrentar “condições ambientais extremas” face às suas origens de águas costeiras: escuridão, temperaturas próximas da congelação e pressões enormes.
Tais condições “exigiram adaptações para a vida no fundo do mar que são inovações evolutivas tão significativas quanto aquelas, como membros e asas, que permitiram a colonização da terra e do ar” por outras espécies de vertebrados, realça o mesmo comunicado.
ZAP // Lusa