Para lá de dar de comer ou brincar com os nossos animais de estimação, faz parte da nossa devolução de carinho tipicamente humana beijá-los, mas estaremos a ignorar os riscos que as doenças zoonóticas nos apresentam?
A posse de animais de estimação está a atingir níveis recorde. Em Portugal, quase todas as famílias têm pelo menos um companheiro zoológico.
Segundo dados do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), Portugal tem registados 3,1 milhões de animais de companhia, havendo assim quase um animal ao cuidado de cada um dos 3,7 milhões de agregados familiares registados em 2021.
Embora valorizados pelos benefícios mentais e físicos que oferecem, os animais de estimação também podem servir, segundo o Science Alert, como reservatórios de doenças zoonóticas — aquelas que podem ser transferidas de animais para seres humanos.
A situação é especialmente complicada pelo facto de os animais de estimação que não mostram sintomas poderem transmitir doenças na mesma, muitas vezes apanhando os donos de surpresa.
Mais de 70 doenças conhecidas podem passar de animais de companhia para seres humanos, podendo ser transmitidas através de contacto direto — como saliva, fluidos corporais e fezes — ou indireto, através de solo, comida ou roupa de cama contaminados.
A investigação indica que a prevalência de zoonoses associadas a animais de estimação é baixa. No entanto, muitas destas doenças não são “notificáveis” e podem manifestar sintomas genéricos ou múltiplas vias de exposição.
Cães, gatos… e não só
Cães e gatos são os principais reservatórios de vírus, bactérias, fungos e parasitas e, em certas regiões, são a principal fonte de doenças como a raiva. Os gatos espalham constantemente doenças através de rotas fecal-oral, como giardíase, salmonelose e toxoplasmose.
No entanto, não são apenas cães e gatos que representam riscos: aves, tartarugas e peixes também podem transmitir doenças aos seres humanos.
Psitacose de aves, salmonela de tartarugas e uma série de infeções bacterianas de peixes, incluindo vibriose e salmonelose, são alguns exemplos.
Grupos vulneráveis em risco
Embora o risco para a população em geral permaneça relativamente baixo, certos indivíduos — como grávidas ou pessoas com sistemas imunitários enfraquecidos — estão em maior risco de contrair doenças dos seus animais de estimação.
Também há certos comportamentos de risco que tornam os donos mais expostos. Um estudo holandês revela que metade dos proprietários de animais de estimação permitem que os seus animais lhes lambam a cara, 18% permitem que os cães partilhem as suas camas e 45% dos proprietários de gatos deixam os seus gatos saltar para as bancadas da cozinha.
Todas estas “cartas brancas” aumentam a duração da exposição a patogéneos. Crianças pequenas são particularmente suscetíveis, uma vez que são menos propensas a lavar as mãos adequadamente e mais propensas a colocar as mãos na boca depois de tanto fazerem “festinhas” aos animais.
O que podemos fazer?
Embora a posse de animais de estimação traga indiscutíveis benefícios, é fundamental adotar práticas adequadas de higiene e cuidado animal para minimizar os riscos antes referidos.
Esta ação de precaução inclui lavar as mãos após a interação com os animais, usar luvas para limpar caixas de areia e procurar cuidados veterinários para animais doentes.
Para aqueles que se encontram sob maior risco — como jovens, idosos ou grávidas — tomar precauções extra é essencial.