Uma reconstrução facial deu rosto a Gertrude, uma das 30 pessoas que morreram durante o naufrágio do navio de guerra sueco “Vasa”, em 1628.
Na altura em que naufragou, o Vasa era o navio mais novo e mais poderoso da Suécia.
Com 10 velas, 64 canhões e 120 toneladas de lastro, o navio pesava 1200 toneladas, de acordo com o Museu Vasa, sediado em Estocolmo, que alberga os destroços desde 1990.
Perto do fim da construção, um capitão supervisor manifestou a sua preocupação com o desequilíbrio da embarcação, mas os oficiais militares ignoraram as suas dúvidas, devido à pressão do rei para que o barco fosse para o mar.
No dia da primeira viagem do Vasa, a 10 de agosto de 1628, milhares de suecos assistiram da costa ao navio sair do porto, navegar menos de uma milha e afundar-se, depois de encontrar uma forte rajada de vento, causando a morte a cerca de 30 pessoas.
De acordo com a SmithSonian Magazine, a sepultura aquática destas vítimas permaneceu intacta durante 333 anos, até que os destroços foram retirados das profundezas em 1961.
Agora, um dos quase 20 esqueletos humanos recuperados do Vasa, não só tem nome, como também um rosto.
O artista forense Oscar Nilsson baseou-se em provas de ADN e de esqueleto para criar uma “impressionante reconstrução fácil” dessa vítima do naufrágio.
Trata-se de uma jovem, recentemente apelidada de Gertrude. Tinha olhos azuis, cabelo loiro e pele clara e teria entre 25 a 30 anos, explicou Laura Geggel, do Live Science.
Nilsson afirma que “precisamos de compreender a história não só com as nossas mentes e intelecto, mas também com os nossos corações”.
“A utilização da ciência e da arte numa reconstrução facial permite-nos obter uma compreensão mais completa da história, uma vez que estamos realmente frente a frente com um indivíduo aparentemente cheio de vida e de experiências humanas”.
Inicialmente, os investigadores pensaram que o esqueleto de Gertrude, então conhecido apenas como “G”, pertencia a um homem — em 2006, deram-lhe o nome de Gustav —, mas análises mais recentes vieram alterar esta especulação.
Com base num exame da pélvis de G, os osteólogos (cientistas dos ossos) concluíram que o esqueleto era de uma mulher, de acordo com um comunicado da Universidade de Uppsala, na Suécia.
Mas só quando o Laboratório de Identificação de ADN das Forças Armadas, em Delaware, analisou os restos mortais é que os investigadores puderam ter a certeza de que G era uma mulher. A equipa apresentou as suas conclusões em abril.
Nilsson já realizou mais de uma dúzia de reconstruções faciais com base em restos humanos centenários.
Criou, pela primeira vez, um modelo do crânio de Gertrude em 2006, quando os investigadores ainda pensavam que era um homem.
Diferenciar o rosto de Gertrude do de Gustav revelou-se um desafio. Nilsson diz que “ela mostra algumas características tipicamente masculinas, como uma mandíbula pesada e um processo mastoide proeminente e algumas [características] mais indecisas e andróginas”.
O tamanho e a superfície do processo mastoide de um crânio, uma saliência óssea atrás da cavidade auricular, influencia a forma das orelhas da pessoa, explica Nilsson.
Gertrude tinha um processo mastoide grande, o que significa que provavelmente tinha orelhas grandes.
Para criar a semelhança, Nilsson partiu de um modelo de plástico impresso em 3D do crânio de Gertrude, bem como de uma TAC efetuada para a reconstrução de 2006.
O investigador calculou a espessura do tecido do rosto de Gertrudes com base em dados de mulheres modernas com idade, peso e localização geográfica semelhantes.
De seguida, esculpiu os músculos faciais em plasticina, colocando-os um a um no crânio de plástico.
Os resultados da análise de ADN orientaram Nilsson na representação do cabelo, da cor dos olhos e do tom de pele de Gertrude.
Um exame dos ossos das costas, que sugerem uma vida passada a levantar objetos pesados repetidamente, moldou o retrato da expressão facial desta vítima de naufrágio.
Nilsson diz que o seu objetivo era dar ao rosto de Gertrude “uma impressão de trabalho árduo“, apesar da sua relativa juventude.
Finalmente, Gertrude precisava de algo para vestir. De acordo Nilsson, o Museu Vasa começou recentemente a fazer corresponder as peças de vestuário encontradas no naufrágio às vítimas que as terão usado.
Um casaco foi recuperado perto dos restos mortais de Gertrude, juntamente com um gorro de lã “concebido para ter uma forma muito alta e tingido com a cor vermelha mais clara”, explica o artista forense.
Ambos foram recriados para a reconstrução e diz que ficou “profundamente tocado” quando um curador colocou o chapéu na cabeça da modelo, recordando-lhe a solenidade da primeira — e última — viagem do Vasa.