O primeiro-ministro neerlandês, Mark Rutte, anunciou esta sexta-feira a sua demissão, devido a divergências entre os parceiros da coligação governamental sobre o controlo da imigração, levando a oposição a exigir a convocação de eleições.
O Governo dos Países Baixos caiu esta sexta-feira devido a divergências sobre o sistema de asilo, depois de o primeiro-ministro, Mark Rute, ter exigido aos seus parceiros de coligação restrições no reagrupamento de familiares diretos de refugiados de guerra.
Os quatro partidos que compõem o governo de centro-direita estão em desacordo há meses sobre a forma como lidar com o fluxo de refugiados, mas a situação ficou tensa na quarta-feira.
Na altura, Rutte apresentou uma proposta de limitação a 200 familiares de refugiados reunidos por mês e um período de espera de dois anos antes de poderem viajar para os Países Baixos.
“Não é segredo que os parceiros da coligação têm opiniões muito diferentes sobre a política de imigração”, disse Mark Rutte à imprensa em Haia.
“Hoje, infelizmente, temos que tirar a conclusão de que essas diferenças são irreconciliáveis. É por isso que irei imediatamente apresentar a demissão de todo o gabinete ao Rei por escrito”, adiantou.
A reação da oposição foi imediata e Geert Wilders, líder do Partido para a Liberdade, de extrema-direita, exigiu através das redes sociais “eleições rápidas já”.
Jesse Klaver, líder do partido Esquerda Verde também pediu eleições e disse à emissora NOS que o país “precisa de uma mudança de direção”.
Rutte presidiu a reuniões noturnas nos últimos dias entre os parceiros de coligação, que não resultaram num acordo sobre a política migratória.
As discussões realçaram divisões ideológicas entre os partidos parceiros centristas que não apoiam uma repressão estrita à imigração – D66 e União Cristã – e os dois mais à direita que favorecem medidas mais duras – o Partido Popular para a Liberdade e Democracia, de Rutte, e os democratas-cristãos.
A situação ficou tensa na quarta-feira, quando Rutte colocou na mesa um limite de 200 familiares de refugiados reunidos por mês e um período de espera de dois anos antes de poderem viajar para os Países Baixos.
Esta proposta tem sido considerada inviável pelo progressista D66, mas sobretudo pela União Cristã, parceiro para quem o respeito pela família é uma “linha vermelha”.
Em 2022, centenas de requerentes de asilo foram forçados a dormir ao ar livre em condições miseráveis perto de um centro de receção lotado, já que o número de pessoas que chegavam aos Países Baixos superava as camas disponíveis, apesar da ajuda de agências de assistência locais.
Pouco mais de 21.500 pessoas de fora da Europa procuraram asilo nos Países Baixos em 2022, segundo dados estatísticos do país e dezenas de milhares mudaram-se para os Países Baixos para trabalhar e estudar.
Os números pressionaram o mercado de habitação, que já era escasso num país densamente povoado.
O Governo de Rutte apresentou uma proposta de lei que pudesse obrigar os municípios a fornecer acomodações para requerentes de asilo recém-chegados, mas a legislação ainda precisa de passar pelas duas câmaras do parlamento.
O primeiro-ministro também promoveu esforços da União Europeia para retardar a migração para o bloco de 27 nações.
No mês passado, Rutte visitou ainda a Tunísia, a quem ofereceu mais de um milhão de euros em ajuda financeira, resgatar a economia débil do país norte-africano e conter a migração a partir das suas costas para a Europa.
O governo de coligação de Rutte, o quarto que liderou, assumiu o cargo em janeiro de 2022, após as negociações de acordo de governo mais longas da história política neerlandesa.
ZAP // Lusa