O cheiro, sabor e expectativa associados ao café podem ser a verdadeira origem do seu efeito despertador pela manhã. Até um descafeinado pode servir de beliscão para enfrentar o dia.
Para muitos de nós, o primeiro café do dia é algo indispensável. Sem esta bebida que nos desperta, não conseguimos enfrentar o dia com a eficácia necessária.
Para perceber os verdadeiros efeitos vigilantes do café, cientistas portugueses da Universidade do Minho estudaram os cérebros dos amantes da bebida para responder a uma questão essencial: serão as propriedades do café a despertar-nos de manhã ou a simples experiência de o beber?
Os cientistas começaram por pedir aos participantes — que bebiam no mínimo um café por dia — para não consumirem qualquer tipo de cafeína durante as três horas prévias ao estudo.
Verificou-se que os processos de introspeção e reflexão — dos quais se esperava, após análise das imagens de ressonância magnética feita aos participantes, um aumento devido aos efeitos neuroquímicos de beber café — diminuíram tanto depois de consumir cafeína como depois de consumir café, o que indica que tanto a cafeína como o café deixam as pessoas mais preparadas para realizar tarefas.
No entanto, segundo o EurekAlert, beber café também aumentou a conectividade na rede visual superior e na rede de controlo executivo direito — partes do cérebro envolvidas na memória de trabalho, controlo cognitivo e comportamento direcionado a objetivos.
Esse fenómeno não aconteceu quando os participantes consumiram apenas cafeína, o que indica que a cafeína isolada não tem o efeito requerido — tem de ser mesmo o “cafezinho”.
Mas se é a cafeína o elemento responsável pelo efeito despertador, porque é que só o café nos tira da cama?
“Tendo em conta que alguns dos efeitos que encontramos foram reproduzidos pela cafeína, poderíamos esperar que outras bebidas com cafeína compartilhassem alguns dos efeitos”, começou por dizer a primeira autora do estudo, Maria Picó-Pérez, que explicou que o cheiro, o sabor e a expectativa associados ao café podem ser a verdadeira origem do seu efeito milagroso pela manhã.
“Outros efeitos eram específicos para o consumo de café, impulsionados por fatores como o cheiro e o sabor específicos da bebida ou a expectativa psicológica associada ao consumo dessa bebida”, disse.
O estudo publicado esta quarta-feira deixa ainda em aberto a possibilidade de até a experiência de beber descafeinado ter estes efeitos placebo — ou mesmo de ser uma “necessidade” para alguns consumidores “ressacados”, motivados a beber um café pelos seus sintomas de abstinência.