As frases “um papel não muda nada” ou “nunca foi um sonho” escondem um mecanismo de protecção e um desejo que revelaria fragilidade.
O casamento deixou de ser uma obrigação social há alguns anos.
Se, antes, era difícil termos alguém na família que tivesse namorado ou namorada há muito tempo sem casar, agora é muito habitual cruzarmo-nos com situações dessas.
Há quem diga que as pessoas deixaram de ir à igreja.
Há quem diga que “não faz sentido”.
Há quem diga que “um papel não muda nada e estamos bem assim”.
Há quem diga que casar “nunca foi um sonho”.
Mas, muitas vezes, o verdadeiro motivo é mais profundo do que tudo isto. É preciso ir aos “bastidores” destas conversas.
A psicóloga Catarina Lucas considera que, sim, casar ainda é o sonho de muita gente.
Mas assumir publicamente que quer casamento… Isso já é outra conversa. Sobretudo quando a parceira ou parceiro não quer.
É que estamos na era de uma sociedade que se apresenta cada vez mais independente e a romper com tradições.
“A sensação é de que as pessoas querem esconder de si próprias o desejo do casamento, pois o assumir dessa vontade pode revelar um papel de fragilidade, que parece cada vez mais ecoar numa sociedade que se quer independente”, explica Catarina, em declarações enviadas ao ZAP.
A realidade é que, quando as pessoas dizem que não querem casar, muitas vezes estão a activar um “mecanismo de protecção e uma estratégia de manutenção do amor próprio ou do orgulho”. Porquê? Porque não quer arriscar ouvir do outro lado a resposta “não quero”.
Mas há outros motivos: falta de tolerância, elevados padrões para futuros parceiros, problemas económicos, dificuldades em manter um trabalho estável e uma casa própria e o orçamento necessário para um casamento.
Voltando ao interior de cada um, a especialista em psicologia clínica avisa que há um receio do compromisso e da conotação “para sempre”.
Antes, o “para sempre” estava quase sempre ligado a dois factores: a mulher cuidava sempre do homem, o homem garantia o sustento financeiro para a mulher.
Calma: o amor existe. Mas anda por aí “camuflado por necessidades diferentes que outrora motivaram casamentos”.
Por isso, a psicóloga Catarina Lucas repete o conselho: falar abertamente sobre o assunto entre os membros do casal. Divergências? Vão aparecer. Mas convém saber ceder (neste e noutro assunto qualquer).
Uma dica final: mostrar desde cedo à outra pessoa o que queremos. “Se o(a) parceiro(a) tem o sonho de casar, não convém dizer apenas passados dez anos de relação que, afinal, talvez não seja o que pretende”.