As nossas células estão a cometer um erro vital (e é por isso que estamos a envelhecer)

Um grupo de cientistas alemães poderá ter finalmente descoberto o segredo para retardar o envelhecimento humano.

Até ao momento, os estudos científicos sobre este tema centraram-se na razão pela qual os seres humanos envelhecem e quais os genes que estão ligados e desligados durante esse processo.

Desta vez, uma equipa de cientistas da Universidade de Colónia decidiu analisar o processo de transcrição dos genes e como este altera à medida que envelhecemos.

A transcrição dos genes é o processo através do qual o nosso organismo faz uma cópia em ARN da sequência de ADN de um gene. É um processo de importância vital, dado que é o principal regulador dos níveis de proteína das células do nosso corpo.

A cópia de ARN criada durante o processo de transcrição – denominada ARN mensageiro (ARNm) – transporta a informação genética necessária para produzir proteínas numa célula. Na prática, o ARNm transporta a informação do ADN no núcleo da célula para o citoplasma, onde são produzidas as proteínas.

O que os cientistas alemães descobriram é que, à medida que envelhecemos, a taxa de transcrição dos genes no nosso corpo aumenta, mas a “máquina” responsável pela execução deste processo torna-se mais lenta.

De acordo com o Interesting Engineering, a equipa analisou o processo de transcrição numa vasta gama de tecidos de moscas da fruta, ratos, ratazanas e humanos e descobriu que a velocidade média da transcrição aumenta com a idade em todas as espécies.

Contudo, a “máquina” responsável pelas transcrições, denominada Pol II, comete mais erros à medida que envelhecemos, dando origem a cópias dos nossos genes propensas a falhas, podendo causar doenças como o cancro.

“Se a Pol II se torna demasiado rápida, comete mais erros e a sequência deixa de ser idêntica à sequência do genoma. As consequências são semelhantes às que temos quando há mutações no próprio genoma”, explicou Andreas Beyer, autor do artigo científico publicado, em abril, na Nature.

Esperançosa, a equipa investigou se poderia haver alguma forma de abrandar a velocidade da Pol II e reduzir, assim, o número de cópias imperfeitas dos genes.

Para tal, os cientistas modificaram geneticamente ratos, moscas da fruta e vermes. Na experiência, colocaram os animais numa dieta de baixas calorias e monitorizaram a insulina para determinar a transcrição na velhice. Em todos os casos, o desempenho do PoI II abrandou e cometeu menos erros.

A análise acabou mesmo por revelar que os animais viviam entre 10% e 20% mais tempo do que os seus homólogos não mutantes.

Além de a investigação dar novas pistas sobre o envelhecimento, “o facto de certas intervenções, como a redução da ingestão de calorias, também terem um efeito positivo num processo de envelhecimento saudável a nível molecular, através da melhoria da qualidade da transcrição dos genes, é algo que agora conseguimos provar claramente com o nosso estudo”, colmatou Beyer.

Os cientistas acreditam que este processo possa ser alterado para retardar o envelhecimento humano e, possivelmente, ajudar a evitar que doenças tardias, como o cancro, se manifestem devido aos erros criados durante o processo de transcrição.

Liliana Malainho, ZAP //

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