Momentos de lucidez antes da morte. Mistério da demência intriga cientistas

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O fenómeno conhecido como “lucidez terminal” está a ser alvo de vários estudos que procuram desmistificar um dos maiores mistérios da demência.

Desde o século XIX, médicos reparam num estranho fenómeno que afetava pacientes com distúrbios psiquiátricos ou neurológicos graves, como a demência. Pouco antes da morte, os pacientes recuperavam inesperadamente a clareza mental e a memória. O biólogo alemão Michael Nahm chamou-lhe de “lucidez terminal”.

Uma nova investigação ao fenómeno pode mudar a forma como vemos a demência e, no melhor dos cenários, até apontar para caminhos que possam reverter a doença.

A Organização Mundial da Saúde estima que em todo o mundo existam 47,5 milhões de pessoas com demência, número que pode atingir os 75,6 milhões em 2030 e quase triplicar em 2050 para os 135,5 milhões. A doença de Alzheimer assume um lugar de destaque, representando cerca de 60 a 70% de todos os casos de demência.

De acordo com um relatório de 2017, a estimativa do número de casos com demência para Portugal é de mais de 205 mil pessoas, número que subirá para os 322 mil casos até 2037, segundo a Alzheimer Portugal.

A demência é irreversível e dura até ao fim da vida das pessoas. No entanto, às vezes, pacientes com demência que não eram coerentes há anos voltam repentinamente ao estado mental por várias horas, morrendo logo depois, explica o site Freethink.

“O caso mais dramático observado pela nossa equipa foi um paciente que estava acamado, não falava e não respondia”, disse Milena Zaprianova, diretora clínica da equipa de cuidados paliativos da VNS Health, ao site proto.life. “Um dia o paciente saiu da cama, foi para a sala de jantar, comeu um bife e conversou com a família. O paciente depois voltou para a cama, foi dormir e morreu no dia seguinte”.

O Instituto Nacional do Envelhecimento dos EUA está a tentar compreender melhor a lucidez terminal. Nos últimos anos, o instituto anunciou duas oportunidades de financiamento para cientistas interessados em estudar o fenómeno.

Quatro grupos receberam financiamento para estudos sobre lucidez paradoxal. O seu objetivo é fundamentalmente a definição do fenómeno e a medição da sua prevalência.

Num artigo publicado em junho do ano passado, uma equipa de investigadores entrevistou cuidadores de saúde sobre as suas experiências com episódios de lucidez. Todos se recordaram de pelo menos um episódio em que o paciente demonstrou um momento significativo de lucidez.

Outro dos estudos financiados está a tentar criar uma escala de medição para a lucidez terminal. A descoberta de qualquer mudança na atividade elétrica do cérebro durante os períodos de lucidez pode ser um passo enorme na investigação da demência.

Outra equipa de cientistas está a entrevistar 8.000 cuidadores de pacientes com demência sobre as suas experiências para ver se o fenómeno pode ser previsto.

Daniel Costa, ZAP //

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1 Comment

  1. Aparentemente o nosso governo não deverá ir tão cedo. Ainda está na fase da demência. Quando houver um mínimo de lucidez, cai no dia seguinte. Temos de aguardar.

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