O Japão está a pagar 7 mil euros às famílias para deixarem Tóquio. Não está a resultar

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Tóquio, Japão (foto: Chris 73 / wikimedia)

Apesar dos incentivos feitos ao longo dos anos pelos governos do país em infraestruturas, um novo pacote de medidas está prestes a entrar em vigor.

O governo japonês anunciou um novo pacote de medidas de incentivos para as pessoas saírem da região de Tóquio. A partir de abril de 2023, as famílias que procuram uma nova vida em regiões mais verdes receberão 1 milhão de iénes japoneses, qualquer coisa como 7 mil euros, por criança. Isto representa um aumento de 700 mil iénes (5 mil euros) em relação aos anteriores pagamentos.

Uma vez incluído todo o pacote de benefícios, o montante máximo que uma família poderá receber é de 5 milhões de iénes. À primeira vista, pode soar a muito dinheiro, mas a verba, equivalente a 36 mil euros, será rapidamente gasta na mudança para uma nova casa, emprego e comunidade, apontam os especialistas.

O principal objetivo do projeto do governo estatal é aliviar a sobrepopulação na região de Tóquio, ao mesmo tempo que revitaliza as áreas rurais e remotas do Japão com uma injeção de juventude e empreendedorismo. Não foi por acaso que o anúncio das medidas ocorreu em dezembro, antes das férias de ano novo, quando muitos habitantes das grandes cidades regressam às suas raízes rurais e as conversas se voltam inevitavelmente para o que o futuro lhes reserva.

Ainda mais significativo é o facto de esta não ser a primeira vez que o governo lança um programa semelhante. De facto, sucessivas administrações japonesas têm tentado — e em grande parte falhado — estabilizar as populações das prefeituras rurais e reduzir a superlotação urbana durante 70 anos.

Tentativas de contraurbanização

A iniciativa engloba os residentes das 23 freguesias de Tóquio propriamente ditas, mas também cidades conhecidas por potenciar as deslocações pendulares, como é o caso das províncias vizinhas de Chiba, Saitama e Kanagawa. A expectativa do governo é que cerca de 10.000 pessoas tirem partido da oferta anualmente.

No entanto, há condições que os cidadãos devem reunir. Por exemplo, pelo menos um trabalhador de cada família deve criar uma empresa no seu novo local de residência ou aceitar um emprego numa pequena ou média empresa. A família deve ainda permanecer por um período mínimo de cinco anos — na impossibilidade de o fazer, deve devolver a totalidade do montante.

O Japão está longe de ser o único país onde os governos pagam às pessoas para se deslocarem para áreas menos urbanizadas. Em 2021, a Irlanda começou a deslocar até 68.000 trabalhadores do governo para fora de Dublin no seu plano O Nosso Futuro Rural. De facto, nos últimos anos, muitos países tiraram vantagem semelhante do aumento da flexibilidade do trabalho remoto que a pandemia estimulou, como é o caso das chamadas “cidades Zoom” nos EUA rurais.

Outros exemplos incluem Albinen na Suíça, várias aldeias espanholas e Presicce em Itália, que está a oferecer 30.000 libras esterlinas para comprar uma habitação vazia e fixar residência.

No caso do Japão, há já um histórico de medidas semelhantes que remonta à Segunda Guerra Mundial. Como detalhado pelo geógrafo alemão Thomas Feldhoff, a partir da Lei de Promoção das Ilhas Remotas de 1953, a maioria teve um sucesso relativo.

No início da década de 1970, o governo do primeiro-ministro Tanaka Kakuei desenhou enormes programas de desenvolvimento de infra-estruturas — o que foi visto como um esforço para aumentar o emprego e estabilizar as populações nestas regiões.

Mais recentemente, uma investigação assinada por Peter Matanle e Yasuyuki Sato mostrou que os municípios rurais se resignaram com a redução sucessiva das populações. Numa tentativa de inverter esta tendência e assumir o controlo de tais futuros, as autoridades locais começaram a concentrar-se na saúde, bem-estar e condições de vida das pessoas que permanecem.

Uma preocupação global

A expansão urbana e o esvaziamento rural são duas faces da mesma moeda do século XXI, e são globais na sua extensão. Nos séculos XIX e XX, à medida que as populações em todo o mundo cresciam exponencialmente, os processos de urbanização não afetavam necessariamente as regiões rurais de forma negativa.

Algumas comunidades beneficiaram com a mudança de pessoas mais jovens para procurar emprego, educação e casamento em cidades próximas, uma vez que as famílias tinham frequentemente mais filhos do que aqueles que podiam sustentar adequadamente.

No século XXI, no entanto, como o tamanho das famílias diminuiu drasticamente, o chamado dividendo demográfico — ou seja, os benefícios de uma população em crescimento — chegou ao fim nos países desenvolvidos.

O Japão tem liderado o caminho da Ásia Oriental. Em 1974, a taxa de fertilidade total japonesa caiu para níveis inferiores à taxa de substituição da população, situada nos 2,1. Os demógrafos saberiam então que, se as condições persistissem, o país acabaria por resvalar para o despovoamento. As condições persistiram e em 2008 o Japão registou a primeira diminuição da população em período de paz.

Embora a população de Tóquio seja agora de 13 milhões, a região de Kanto, de que é o núcleo, conta com mais de 37 milhões de pessoas — 30% de toda a população do Japão. Noutras partes do país, centenas de aldeias e aldeias rurais enfrentam a extinção iminente.

Como referido, o Japão não é caso único. A Grande Seul tem cerca de 25 milhões de pessoas, quase metade da população da Coreia do Sul numa zona urbana, estando o resto espalhado pelo resto do país. E na China, a área do delta do Rio das Pérolas, que engloba Hong Kong, Shenzhen, Macau e Guangzhou, conta com 100 milhões de pessoas, enquanto que o país mais vasto conta agora com 155 cidades com mais de 1 milhão de habitantes.

Mais longe, com 1,7 milhões, a cidade de Auckland compreende quase um terço da população da Nova Zelândia. Apenas 1,2 milhões de pessoas, pelo contrário, vivem em toda a Ilha do Sul.

Os impactos espaciais desta transição demográfica têm sido sentidos mais profundamente nas regiões rurais da Ásia-Pacífico. Estes cresceram mais rapidamente no século XX, e enfrentam agora um despovoamento quase tão rápido no século XXI. Comunidades inteiras estão a desaparecer. A terra e a habitação estão a ser abandonadas. As infra-estruturas estão a decair.

Como o resto do leste e sudeste asiático segue os passos do Japão, o arquipélago é, em certa medida, um laboratório para a concepção de políticas eficazes para lidar com os resultados socioeconómicos e ambientais do despovoamento, um fenómeno que será cada vez mais sentido a nível global.

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2 Comments

  1. Este é um enorme problema que o mundo enfrenta e, sinceramente, não sei como se pode resolver. Há muitos anos que vivi na Catalunha, soube que o governo do País Basco pagava mais aos funcionários públicos que fossem trabalhar para as zonas rurais mas, sinceramente, não sei os resultados desta medida.

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