Alteração está a ser vista como uma forma de o Ministério da Defesa reequilibrar o domínio da ofensiva russa, depois do grupo Wagner ter tomado a dianteira.
A evolução recente das tropas russas no terreno não parece estar a ser do agrado de Vladimir Putin que, três meses após a última alteração no comando da operação militar espacial na Ucrânia, volta a mexer na liderança das tropas. Valeri Guerasimov é o homem que se segue, rendendo Serguei Surovikin — que assumiu o posto em outubro.
Guerasimov apresenta-se, aos 67 anos, como chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, cargo que ocupou durante dez anos, e um dos homens em que Putin mais confia. É conhecido por ser o criador da “Doutrina Guerasimov”, a qual defende uma ideia em tudo parecida com a guerra híbrida — e que, por isso, não representa uma novidade.
Vários analistas atribuem-lhe um papel importante na invasão à Ucrânia, já que a divulgação da sua doutrina aconteceu um ano antes do primeiro avanço russo na Crimeira, em 2014, onde muitas das suas ideias foram aplicadas. Também no que respeita à guerra iniciada a 24 de fevereiro do ano passado, Valeri Guerasimov teve irremediavelmente um papel de destaque, enquanto chefe do Estado-Maior das Forças Armadas. Especula-se que, juntamente com Vladimir putin e Serguei Shoigu, ministro da Defesa, terá arquitetado os primeiros estágios da ofensiva.
Não é, por isso, com surpresa que nos meses que antecederam o ataque, tenha sido visto a negar qualquer plano ou intenção para o ataque, atribuindo os rumores da invasão a Kiev e aos Estados Unidos da América.
Já no contexto da guerra, terá escapado, em maio, a um ataque das forças ucranianas, após uma aposta de Vladimir Putin de o enviar para a frente de batalha, em Izium, na região de Kharkiv, de forma a “mudar o rumo” da ofensiva russa”. O ataque ucraniano terá partido após uma informação dada pelos serviços secretos, mas falhou por Guerasimov já ter regressado a Moscovo.
As mudanças no comando militar também estão a ser vistas como uma resposta ao crescente protagonismo que o grupo Wagner está a ganhar, depois de anunciar a conquista de Soledar — uma afirmação que é vista como exagerada por parte do Kremlin. “Não vamos apressar-nos, vamos aguardar pelos pronunciamentos oficiais. Há uma dinâmica positiva em andamento”, avançou o porta-voz.
O aparente desmentido parece ser também um aviso para o chamado chef de Putin, o Yevgeny Prigozhin, responsável pelo grupo Wagner, que nos últimos meses tem tecido fortes críticas aos fracassos russos na Ucrânia, atribuindo culpas aos comandos da “operação militar especial”. Rob Lee, investigador do Foreign Policy Research Institute ouvido pelo Público, entende que esta nomeação é um sinal da intençãi de reforçar a posição do Ministério da Defesa na condução da guerra e equilibrar o poder conseguido nos últimos meses pelo grupo paramilitar.