Ícone do playback, Madonna oriental e “voz de cabra” entre os 200 melhores cantores de sempre

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Divulgação

Capa do álbum "Fifty Gates of Wisdom" (1989) da cantora israelita Ofra Haza.

Capa do álbum “Fifty Gates of Wisdom” (1989) da cantora israelita Ofra Haza.

“A Madonna do Médio Oriente”, uma icónica cantora de playback indiana e um sul-africano que inspirou Paul Simon e era conhecido pela “voz de cabra” estão na lista dos 200 melhores cantores de sempre da revista Rolling Stone.

Isto de escolher os melhores cantores de sempre tem tudo para dar polémica. Nunca haverá consenso e é isso mesmo que se verifica com esta lista da Rolling Stone que foi compilada com base nas impressões de elementos da equipa da revista e de “contribuidores chave”.

A revista realça que este top resulta da avaliação de mais de “100 anos de música pop e que não inclui cantores de Ópera, mas apenas artistas que “tiveram carreiras significativas” a fazer “música popular para as massas”.

No ponto prévio à divulgação dos 200 cantores, a publicação ainda esclarece que se trata da “lista dos melhores cantores” e “não a lista das melhores vozes”.

“O talento é impressionante, o génio é transcendente“, continua a Rolling Stone, dando o exemplo de Ozzy Osbourne que aparece no número 112 da lista. “Não tem o que a maioria das pessoas chamaria uma boa voz, mas pá, tem uma óptima”, aponta a revista, salientando que se pode aplicar a mesma ideia a outros nomes da lista.

Assim, o que foi mais importante na apreciação foi “a originalidade, a influência”, a “profundidade do catálogo de um artista” e “a amplitude do seu legado musical”, nota-se ainda.

“Nunca mais vamos ouvir nada como Aretha Franklin”

Posto isto, não é surpreendente que a lista seja dominada por cantores norte-americanos com Aretha Franklin à cabeça, como a melhor de todos. “Uma força da natureza”, “o trabalho de um génio” e “um dom dos céus” são os termos usados para descrever a cantora soul.

“O seu canto é o som mais magnífico que já emergiu da América – mais universal do que o trompete de Coltrane, mais arrojado do que a guitarra de Hendrix”, acrescenta a Rolling Stone, concluindo que “nunca mais vamos ouvir nada como Aretha Franklin”.

Whitney Houston é o segundo nome da lista, com a revista a notar que a sua voz “ressoará por décadas após a sua morte em 2012” e que tinha “um soprano que era tão poderoso como terno”.

A fechar o pódio surge Sam Cooke, estrela do gospel e do soul norte-americano dos anos de 1950 e 1960. “Há uma música popular americana antes e depois de Sam Cooke”, repara a Rolling Stone, destacando que o cantor definiu “a ideia” do que é a música soul.

Três brasileiros na lista da Rolling Stone

Na lista dos 200 melhores cantores de sempre surgem os brasileiros João Gilberto (81º), “um mestre da subtileza cosmopolita”, a “diva da Baía” e “a vocalista feminina mais transcendental do pós-bossa nova” Gal Costa (90º), e Caetano Veloso (108º), o equivalente brasileiro de Bob Dylan (15º) e “um roqueiro revolucionário com uma forte inclinação literária”.

Há vários nomes incontornáveis da música pop dos últimos anos que não poderiam deixar de estar no top da Rolling Stone. Exemplos disso são figuras como Prince (16º), David Bowie (32º), Mick Jagger (52º), Tina Turner (55º), Robert Plant (63º), Bruce Springsteen (77º), Janis Joplin (78ª), Johnny Cash (85º), Michael Jackson (86º), Diana Ross (87º), Elton John (100º), Leonard Cohen (103º), Lou Reed (107º), Chet Baker (116º), Patti Smith (117ª), Axl Rose (134º), Bono (140º), Barbra Streisand (147º) e Iggy Pop (176º).

Mas há também nomes de gerações mais recentes como Adele (22ª), Lady Gaga (58ª), Rihanna (68ª), Taylor Swift (102ª), The Weeknd (110º), Christina Aguilera (141ª), Carrie Underwood (158ª), Lana del Rey (175ª), Alicia Keys (185ª), Kelly Clarkson (194ª) e Billie Eilish (198ª).

No top 200 surge ainda o nome de Chris Cornell (1964-2017), vocalista dos Soundgarden e dos Temple of the Dog, bandas que marcaram o movimento grunge dos anos de 1990 que teve nos Nirvana e nos Pearl Jam as bandas mais mediáticas.

“A Rainha da Salsa” no 18º lugar e Courtney Love

John Lennon é o primeiro não americano da lista no 12º lugar, enquanto Paul McCartney, outro dos fundadores do Beatles, é 26º.

Freddie Mercury surge no 14º lugar devido ao seu “carisma avassalador”, refere a Rolling Stone que também destaca a sua voz única.

Já a cubana Celia Cruz, conhecida como “A Rainha da Salsa”, é 18ª. Trata-se de uma das mais importantes artistas da música latina do Século XX e continua a ser “uma das cantoras mais transcendentes de todos os tempos”, vinca a Rolling Stone.

Mas, para lá destas grandes figuras, há outras menos consensuais na lista, incluindo Ariana Grande no 43º lugar, à frente de James Brown (44º lugar) e de Ella Fitzgerald (45º).

Há ainda nomes como George Michael (62º) e Marc Anthony (167º), ou ainda Courtney Love (130ª) que é mais conhecida por ter casado com Kurt Cobain, o líder dos Nirvana que aparece no 36º lugar da lista.

A Rolling Stone repara que Courtney Love representa uma “tradição punk de mulheres que não se importavam de cantar bonito“, trazendo essa “sensibilidade para mais perto do rock mainstream do que qualquer outra cantora nos últimos 30 anos”.

A revista atesta ainda que a líder da banda Hole teve “impacto imediato”, inclusive em Kurt Cobain, o grande cantor rock dos anos de 1990.

“Desde a intensidade quase inaudível de “Pretty on the Inside”, de 1991, até o sucesso das Hole, “Live Through This”, até os singles mais recentes, como o hino da amizade tóxica de 2015 “Miss Narcissist”, ninguém canta como Courtney“, conclui a publicação.

A representar o punk feminino está ainda a inglesa Poly Styrene (195º) que foi vocalista da banda X-Ray Spex e que morreu de cancro, aos 53 anos, em 2011.

Era “um pequeno dínamo birracial que usava aparelho e entregava as suas letras inteligentes sobre auto-ilusão consumista num grito alegremente profano”, destaca a Rolling Stone, definindo-a como uma das grandes figuras do punk dos anos de 1970.

“O vocalista mais sobrenaturalmente talentoso do disco”

No 169º lugar deste top 200 aparece Sylvester James que “foi um pioneiro em todos os sentidos“, a começar pela sua sexualidade, sendo abertamente homossexual numa altura em que isso não era nada habitual, repara a Rolling Stone.

Além disso, Sylvester foi “um inovador negro” com vários “hits de dança dos Setenta e Oitenta”.

“Sylvester era o vocalista masculino mais sobrenaturalmente talentoso do disco – de passagens de palavras faladas surpreendentemente roucas a um falsete destruidor” que “humanizou todos aqueles sintetizadores”, constata ainda.

Sylvester morreu de SIDA em 1988, tendo também sido um dos infelizes pioneiros que foram vítimas da doença.

A Rainha do K-Pop e o mais jovem dos BTS

Este top dos 200 melhores cantores de sempre é dominado por cantores norte-americanos, como seria de esperar. Os britânicos são a segunda nacionalidade mais representada, mas também inclui vedetas de países menos óbvios.

Assim os mexicanos Vicente Fernández e Juan Gabriel aparecem nos 95º e 172º lugares, respetivamente.

O nome de Bob Marley (98º) não surpreende, mas aparece ainda outro jamaicano na lista, Luciano (143º), outra figura do reggae que a Rolling Stone diz ser “um mestre da arte perdida de harmonizar”.

A sul-coreana IU Lee Ji-eun aparece na 135ª posição por ser uma das maiores artistas do chamado K-Pop, a onda de música pop da Coreia do Sul que, actualmente, conquista jovens de todo o mundo.

“Em 2022, tornou-se na primeira solista mulher e coreana a encabeçar um concerto no Estádio Olímpico de Seul, vendendo todos os bilhetes em cinco minutos“, repara a Rolling Stone, evidenciando que tem entre os seus admiradores o famoso Jung Kook dos BTS, a boys band sul-coreana mais mediática da atualidade.

O próprio Jung Kook aparece no 191º lugar da lista, sendo descrito pela Rolling Stone como “o multifacetado membro mais novo” dos BTS e como “um performer forte” que “escreveu várias canções” e que é “conhecido por ser extremamente trabalhador e humilde, apesar do sucesso que experimenta desde tenra idade”. E, por acaso, “também é um cantor extremamente dotado”, sublinha a publicação.

Jung Kook “atinge notas altas com facilidade e harmoniza” com os restantes membros da banda “sem esforço”, realça também a revista.

“A imperatriz dos cantores de playback”

Nesta lista com cores internacionais, podemos ainda encontrar o paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan (91º). O cantor que morreu em 1997, aos 48 anos de idade, tem entre os seus fãs figuras como Madonna e Eddie Vedder (105º da lista da Rolling Stone), entre outros.

A indiana Lata Mangeshkar (1929-2022) aparece no 84º lugar como “a imperatriz dos cantores de playback“. Esta vedeta da pop da Índia tornou-se mundialmente famosa através dos filmes de Bollywood “cuja era dourada definiu”, gravando “mais de 7.000 canções” para os actores dobrarem.

O êxito “Toxic” de Britney Spears tem um sample do dueto de Lata de 1981 “Tere Mere Beech Mein”.

O Leão do Soweto com “voz de cabra”

A islandesa Björk aparece na 64ª posição e o senegalês Youssou N’Dour é 69º. Já a sul-africana Miriam Makeba (1932-2008), também conhecida como “Mama Africa”, surge no 53º lugar.

No 153º lugar, aparece outro sul-africano, Simon “Mahlathini” Nkabinde, também conhecido como o “Leão do Soweto”. Às vezes, chamavam ao seu estilo de canto “voz de cabra”, nota a Rolling Stone frisando que foi fundamental na criação do estilo mbaqanga que inspirou Paul Simon na música “Graceland”.

Mahlathini “foi uma figura inigualável na história da música sul-africana, dotado de um gemido baixo profundo que chocalhava as nuvens”, escrevre ainda a revista.

A francesa Françoise Hardy é 162ª e a argentina Mercedes Sosa (1935-2009) aparece no 160º lugar como “líder do movimento nueva canción”, incorporando “o idealismo comovente da política de esquerda” através de “canções folclóricas e militantes de protesto”.

Embaixadores do afrobeat

O “gigante cultural nigeriano” Burna Boy é 197º por se considerar que é “o embaixador dos afrobeats como movimento global”.

Fela Kuti (188º) é outro nigeriano na lista por ter assinado “músicas icónicas dos 1970s e 1980s”, repara a Rolling Stone, evidenciando os “extensos instrumentais orquestrais” num “redemoinho inovador de highlife africano, soul americano e jazz”.

Além disso, Kuti tinha uma perspectica “anti-colonialista” e uma “visão pan-africana”, desafiando “o governo militar corrupto da Nigéria”. Morreu em 1997, sendo considerado um pioneiro do movimento afrobeat.

A “Madonna do Médio Oriente”

Outro nome surpreendente é o da egípcia Umm Kulthum (1898-1975) na 61ª posição. Mas a cantora foi uma grande influência para muitos músicos árabes e chegou a inspirar Beyoncé durante uma coreografia, num concerto em 2016.

Rosalía, um dos fenómenos espanhóis do momento, fecha o top 200. “Quando ela canta, parece que está a puxar décadas de história da sua garganta e a ressuscitá-las no ar”, aponta a Rolling Stone.

No 139º lugar, surge Rocío Dúrcal (1944-2006), “a espanhola mais mexicana” por ter feito carreira no México com “rancheras” repletas de sentimentos e de “arranjos com Mariachi”, como atesta a revista, frisando que foi “uma das artistas femininas mais queridas da América Latina nos anos de 1980 e 1990”.

No 186º lugar, aparece a israelita Ofra Haza (1957-2000), uma “voz inconfundível” que era “inspirada pela ascendência iemenita-judaica”, combinando “vocais tradicionais convencionais com técnicas modernas para criar algo que parecia ao mesmo tempo antigo e à frente do seu tempo”, repara a publicação, salientando que era a “Madonna do Médio Oriente”.

A cantora morreu aos 42 anos com SIDA e diz-se que terá sido infectada pelo marido que faleceu um ano depois dela.

Já agora, a Madonna original não faz parte da lista dos 200 melhores cantores, nem tão pouco a canadiana Céline Dion que é considerada uma das grandes vozes do nosso tempo.

Eis o top 50 desta lista elaborada pela Rolling Stone:

1 – Aretha Franklin (EUA)
2 – Whitney Houston (EUA)
3 – Sam Cooke (EUA)
4 – Billie Holiday (EUA)
5 – Mariah Carey (EUA)
6 – Ray Charles (EUA)
7 – Stevie Wonder (EUA)
8 – Beyoncé (EUA)
9 – Otis Redding (EUA)
10 – Al Green (EUA)
11 – Little Richard (EUA)
12 – John Lennon (Reino Unido)
13 – Patsy Cline (EUA)
14 – Freddie Mercury (Reino Unido)
15 – Bob Dylan (EUA)
16 – Prince (EUA)
17 – Elvis Presley (EUA)
18 – Celia Cruz (Cuba)
19 – Frank Sinatra (EUA)
20 – Marvin Gaye (EUA)
21 – Nina Simone (EUA)
22 – Adele (Reino Unido)
23 – Smokey Robinson (EUA)
24 – George Jones (EUA)
25 – Mary J. Blige (EUA)
26 – Paul McCartney (Reino Unido)
27 – Dolly Parton (EUA)
28 – Mahalia Jackson (EUA)
29 – Chaka Khan (EUA)
30 – Hank Williams (EUA)
31 – Luther Vandross (EUA)
32 – David Bowie (Reino Unido)
33 – Bessie Smith (EUA)
34 – Thom Yorke (Reino Unido)
35 – Dusty Springfield (Reino Unido)
36 – Kurt Cobain (EUA)
37 – Van Morrison ( Irlanda do Norte)
38 – Curtis Mayfield (EUA)
39 – Louis Armstrong (EUA)
40 – Aaliyah (EUA)
41 – Etta James (EUA)
42 – Teddy Pendergrass (EUA)
43 – Ariana Grande (EUA)
44 – James Brown (EUA)
45 – Ella Fitzgerald (EUA)
46 – Mavis Staples (EUA)
47 – Linda Ronstadt (EUA)
48 – Toni Braxton (EUA)
49 – Rod Stewart (Reino Unido)
50 – Joni Mitchell (Canadá)

Susana Valente, ZAP //

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1 Comment

  1. Listas deste género têm sempre um valor muito relativo, são sempre algo subjectivas. na minha opinião, faltam nela, por exemplo: Elizabeth Frazer, Tony Bennett, Ian McCulloch, Jim Morrisson, Teresa Salgueiro.

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