Cientistas cultivam a primeira vagina dentro de um chip

Instituto Wyss da Universidade de Harvard

Vagina num chip.

Para desvendar os mistérios do funcionamento da vagina, cientistas norte-americanos cultivaram células do órgão sexual feminino dentro de um chip de silicone.

A estratégia simula as principais características do microbioma vaginal e vai permitir até testar novos medicamentos.

Publicado na revista científica Microbiome, o estudo que detalha a criação da vagina em chip foi desenvolvido por investigadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Para a construção do dispositivo, foram recolhidas células vaginais de duas mulheres com mais de 18 anos.

Segundo os inventores da vagina em chip, a estrutura contém os mesmo níveis de estrogénio que o órgão natural e, ali, vivem as mesmas bactérias encontradas em vaginas saudáveis. São essas bactérias que formam um ambiente mais ácido e, consequentemente, protetor na região. Em circunstâncias normais, o pH deve ser menor que 4,5.

Embora possa parecer inusitado cultivar vaginas em chips, os autores do estudo explicam que esta é uma estratégia para “entender melhor as interações entre o microbioma vaginal e os tecidos do hospedeiro, bem como para avaliar a segurança e eficácia de produtos bioterapêuticos vivos”.

Basicamente, o chip permite o estudo e a melhor compreensão dos seguintes pontos:

  • Interação entre as células e os fluidos da vagina;
  • Entender como doenças afetam a vagina, como a vaginose bacteriana;
  • Visualizar o impacto de diferentes níveis da hormona na região;
  • Testar novos tratamentos.

Vagina: mistério para a ciência

“Nós realmente não entendemos como é que estas doenças [como a vaginose bacteriana] são desencadeados por bactérias na vagina ou mesmo quais bactérias são responsáveis”, afirma Amanda Lewis, professora da Universidade da Califórnia, em San Diego, ao jornal The New York Times.

Embora Lewis não tenha participado no estudo, reconhece o valor do modelo para o estudo das vaginas que, em grande parte, ainda são um mistério para a ciência. Neste cenário, as infeções urinárias — tão comuns nas mulheres — serão finalmente melhor compreendidas.

Anteriormente, os mesmos cientistas de Harvard que desenvolveram a vagina em chip já tinham recriado outros órgãos nos mesmos moldes. Por exemplo, já propuseram simulações do pulmão, do fígado, da pele e dos intestinos humanos.

Segundo a equipa, o uso de chips de órgãos tridimensionais, feitos com tecidos humanos, reservam muitas vantagens em relação a outros modelos in vitro. Por exemplo, quando o estudo ocorre numa placa de Petri, as bactérias são mais eficazes e matam as células humanas mais rápido do que aconteceria na natureza. Com isso, a validade do estudo é limitada.

Agora, uma nova etapa de investigação começa com o uso do modelo da vagina em chip. Nos próximos anos, a estratégia poderá proporcionar boas novidades para a saúde feminina, como novos medicamentos.

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