Autarcas falam numa “tempestade perfeita”, numa altura em que muitas famílias também recorrem à junta de freguesia para preencher necessidades económicas.
A subida dos preços da energia, tanto no que respeita ao gás como à eletricidade, não afeta só os consumidores domésticos, mas também as autarquias e as juntas de freguesia, que nos últimos meses assistiram a um disparar dos custos — em alguns casos, para valores incomportáveis.
Em declarações ao Diário de Notícias, José António Videira, presidente da Junta de Freguesia de Marvila, explicou que, partindo dos primeiros nove meses do ano e considerando as estimativas para os próximos meses, é já possível estabelecer uma diferença de 400 mil euros face ao ano passado. Uma parte significativa desta diferença tem que ver com a fatura energética das piscinas municipais (mais 240 mil euros do que no ano passado), e é uma consequência do custo do gás.
No que concerne às escolas, estima um aumento na ordem de 160 mil euros. “Temos oito escolas de 1º ciclo com Jardim de Infância e a única escola da cidade com duas cozinhas, em dois edifícios distintos.
De acordo com o autarca os aumentos começaram a sentir-se “logo a partir de abrir”, sendo que no caso das escolas se verificou um alívio nos meses de verão por consequência das férias escolares. É, por isso, expectável que nos próximos meses os custos se agravem com a chegada do frio e a necessidade de se recorrer a aquecimento.
“Estamos a falar de valores cinco a seis vezes superiores, por cada equipamento, ao que costumávamos ter. Custos que eram, de 300 euros estão agora na ordem dos 1500, os que tinham valores de 800 euros agora chegam aos 2100“. De acordo com o autarca, se até agora a junta tem conseguido assegurar as despesas graças a a “poupanças”, no entanto, assegura, a situação é “impossível de gerir a 2/3 anos”.
José António Videira fala ainda numa “tempestade perfeita“, numa altura em que muitas famílias também recorrem à junta de freguesia para preencher carências económicas.
As mesmas queixas são expostas por Fernando Ribeiro Rosa, na freguesia de Belém, onde as piscinas municipais são um dos principais equipamentos usados pela população, mas representam despesas que aumentaram “muitas dezenas de milhares de euros”. “Não há orçamento que resista a uma coisa destas. Já cá estou há muitos anos e nunca estive tão atrapalhado”, explica o social-democrata.
O autarca defende, neste quadro, “um pouco mais de responsabilidade da câmara e maior complementaridade com as juntas de freguesia”, colocando esperanças numa ajuda da Câmara de Lisboa, atualmente nas mãos de Carlos Moedas. Ricardo Mexia, especialista em saúde pública e independente eleito na coligação Novos Tempos na freguesia do Lumiar, reclama igualmente mais ajudas do Governo, semelhantes às que foram anunciadas para as famílias e empresas.
Outro ponto comum aos discursos dos vários autarcas tem que ver com o facto de as dotações orçamentais às freguesias não terem aumentado, uma década após a reforma administrativa da cidade, uma realidade que deixa os organismos com valores desajustados da realidade.